quinta-feira, 11 de setembro de 2014

11 de Setembro

 
 
 
 
 
 
 
 

                                      11 de Setembro
 
 
 
Um dia normal decorria na capital nova-iorquina.
Várias pessoas monitorizavam as suas ideias num papel digital
pressionando, freneticamente, os botões de um teclado cansado.
Outras trocavam ideias, conceitos, opiniões.
Os vidros trespassavam um brilho culminante,
transparecendo a vida exterior a um edifício magnificente.
A agitação natural da cidade
parecia não se sentir nos confortáveios gabinetes.
Apenas uma visão fugaz através das vidraças o denunciava.
O som de vozes empenhadas num trabalho valoroso
misturava-se com o cheiro do café.
A brancura das paredes invadira o espaço.
Uma habitual rotina.
Fugazmente, os fortes vidros transformaram-se
em frágeis fatias de matéria.
As cândidas paredes mancharam-se com un negro véu de medo.
O espaço cobriu-se com um manto de cinzas asfixiantes.
Tudo parecia perdido.
Vozes de agonia sopravam através de um cobertor de pânico.
Corpos desesperados lançavam-se pelo abismo.
Gritos, lágrimas.
Uma criança obsevava, no exterior, o terror
que se desenrolava ao seu redor.
Não entendia. Apenas via.
A sua mãe segurava a sua mão, apertando-a. Chorava.
Tudo parecia demasiado estranho.
- O pai está lá dentro?
Sem saber, uma tímida lágrima desliza, humedecendo a pele
do seu rosto.
A mãe olha para a criança. Um olhar desfocado.
Acaricia os seus cabelos claros e sussurra:
- O pai está dentro do teu coração.

 

 Carolina Taveira (Lisboa, 1987), in “Palavras Intemporais”.

 

 

 

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