O
sr. Eleutério
“Quanto mais um homem mostra a sua incapacidade, tanto mais apto se torna para governar o seu país!
O que fará proceder o chefe do estado da maneira seguinte na
apreciação dos homens:
O menino Eleutério fica reprovado no seu exame de francês. O poder moderador deita-lhe
logo o olho.
O menino Eleutério, continuando a sua bela carreira política
– fica reprovado no seu exame de história.
O poder moderador agita-se e acena-lhe com um lenço branco.
O caloiro Eleutério fica reprovado no 1º ano da faculdade de
direito. O poder moderador exulta e quer a todo o transe ter com ele umas
falas.
O senhor Eleutério fica reprovado no 5º ano. O poder
moderador não pode conter o júbilo e fá-lo ministro da justiça.
E a opinião aplaude.
Do modo que, se um homem pudesse apresentar-se ao chefe do
estado com os seguintes documentos:
Espírito de tal modo bronco que nunca pôde aprender a somar;
Estupidez tão espessa que nunca pôde distinguir as letras do
ABC;
Reprovações sucessivas em todas as matérias de todos os
cursos;
O chefe do estado tomá-lo-ia pela mão, e dir-lhe-ia,
sufocado em júbilo:
- Tu Marcellus eris!
Tu serás presidente do conselho!
Eça
de Queirós e Ramalho Ortigão, escritores
portugueses, in “As Farpas”.
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