António Barbosa Bacelar (Lisboa,
Portugal, 1610 – 1663).
A sua obra poética está principalmente publicada no
Cancioneiro seiscentista português Fénix
Renascida.
Sinto-me sem
sentir todo abrasado
No rigoroso fogo, que me
alenta,
O mal, que me consome,
me sustenta,
O bem, que me entretém,
me dá cuidado:
Ando sem me mover, falo
calado,
O que mais perto vejo,
se me ausenta,
E o que estou sem ver,
mais me atormenta,
Alegro-me de ver-me
atormentado:
Choro no mesmo ponto, em
que me rio,
No mor risco me anima a
confiança,
Do que menos se espera
estou mais certo;
Mas se de confiado
desconfio,
É porque entre os
receios da mudança
Ando perdido em mim,
como em deserto.
António Barbosa Bacelar, in “Fénix Renascida”