João Rui de Sousa (Lisboa, Portugal,
1928)
É poeta, ensaísta e crítico
literário.
Foi distinguido por unanimidade com o prémio “Vida Literária” da
“Associação Portuguesa de Escritores/Caixa Geral de Depósitos” de 2012.
Meu jeito visionário — meu astrolábio
Meu ser mirabolante — um alcatruz.
De variadas coisas fiz a minha esperança
e sempre em várias coisas vi a minha cruz.
Aos padrões que em vários pontos encontrei
na rota íntima de vestes tropicais
eu dei as mãos, serenas e intactas,
as minhas dores mais certas e reais.
Nos vários sítios que — abismos —
toldaram minha voz por um olhar,
eu evitei o perigo e os prejuízos
à voz feita de calma, meu cantar.
Aos rasgos que, de outrora, evocados
foram sempre pelo seu valor,
eu dei a minha tez de dúvida e de espanto,
o meu silêncio amargo, o meu calor,
E aos pontos cardeais que em volta, vacilantes,
desalentavam já meu ser cativo,
parei o gesto, roubei o pólo sul da esperança
como lembrança para um dia altivo.
João Rui de Sousa
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