Joaquim Paço
D´Arcos – (Lisboa, Portugal, 1908
– 1979).
Foi ensaísta, contista, poeta e dramaturgo.
Uma parte da
sua obra literária é constituída pela Crónica
da Vida Lisboeta, em que ele se dedicou ao estudo da alta sociedade portuguesa
de Lisboa.
Algumas das suas
obras: Diário dum Emigrante, O Navio dos Mortos
e Outras Novelas, Poemas Imperfeitos, Memórias da Minha Vida e do Meu Tempo.
Medo
Medo não é o
temor dos piratas no Rio de Oeste,
Nem dos
tufões do mar.
Não é o
receio dos tiros, pela noite,
No rio
povoado de lorchas e traições;
Nem o susto
dos enforcados,
Ao luar
branco,
No mangal da
Areia Preta.
Medo não é o
temor da guerra,
nem da fome,
nem da cólera,
Nem das
chagas dos leprosos
na Ilha de
S. João;
Não é
suspeita
De que a
morte espreita,
Continuadamente,
E nos
levará.
Medo não é
contágio da tristeza
Quando a
tarde tomba
E o ocaso
ensanguenta
O mar de
água barrenta,
As terras e
o céu,
Até as ilhas
serem tragadas pelo negrume
E as
montanhas pelo escuro,
E nada
restar senão a treva
E os gritos
que atravessam a noite,
Vindos não
sei donde,
Para não sei onde.
Nem dos
beijos vermelhos que enganam
E sorvem lentamente as vidas...
E me deixes só.
Joaquim Paço
D´Arcos, “Poemas Imperfeitos”
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