domingo, 13 de dezembro de 2015

JUDITH TEIXEIRA - O Palhaço

 
 
 
 
 

Judith Teixeira (Viseu, Portugal, 1880 – Lisboa, Portugal, 1959).

Publicou três livros de poesia.

Os exemplares do seu livro Decadência foram apreendidos e mandados queimar pelo Governo Civil de Lisboa.

Os livros Canções de António Botto e Sodoma Divinizada de Raul Leal tiveram, simultaneamente, o mesmo destino.

Estas confiscações foram efetuadas na sequência de campanhas contra «os artistas decadentes, os poetas de Sodoma, os autores, editores e distribuidores de livros imorais.» 

 

 
                     O Palhaço

 
Anda-se a rir, a rir dentro de mim,
Com as lívidas faces desbotadas
Um estranho palhaço de cetim,
Rasgando em dor meu peito às gargalhadas!
Sobe aos meus olhos sempre a rir assim -
Espreitando as figuras malsinadas
Que não se vestem nunca de arlequim,
Mas andam pela vida disfarçadas.

Na sombra dos meus cílios, emboscado,
Ri, no meu olhar frio e desolado,
Escondendo-se atónito e surpreso

E quando desce à triste moradia,
Vem mais louco e soberbo de ironia
Na irrisão dum sarcástico desprezo!

 

Judith Teixeira

 

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