Orlando Neves
(Portalegre, Portugal, 1935 –
Senhora da Hora, Matosinhos, Portugal, 2005).
Foi poeta, escritor, dramaturgo, cronista, jornalista, encenador, investigador, crítico e tradutor.
Publicou: Dicionário de Frases Feitas, Dicionário de Expressões Correntes, Dicionário da Origem das Palavras e Dicionário de Superstições.
Foi poeta, escritor, dramaturgo, cronista, jornalista, encenador, investigador, crítico e tradutor.
Publicou: Dicionário de Frases Feitas, Dicionário de Expressões Correntes, Dicionário da Origem das Palavras e Dicionário de Superstições.
Só de
Restos se Consagra o Tempo
Só de
restos se consagra o tempo, força
cerrada na inutilidade destas
cores campestres, quando o sol em Novembro
escurece os sobreiros. Só de restos me
espera a cerimónia de viver,
trânsito e transigência do silêncio,
ocultado no meu corpo. Só de restos
o trespassa o tempo, máscara e manto. Morro
muito antes da morte, sem saber se os anjos
foram gaivotas hirtas no piedoso
musgos dos rios ou se hão-de ser maçãs
ou ciência, loendros ou lembrança,
inocentes, lúcidos sonos ou oblata
de seda, a deus cedida, em pagamento
da paz. Só do que chega ao fim, se corrompe
e apodrece, se imagina o princípio,
a majestade das coisas, o silêncio
irrevelado que o corpo desconhece.
Orlando Neves, in "Mar de que Futuro"
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