António
Aleixo (Vila Real de Santo António, Portugal, 1899 – Loulé, Portugal,
1949).
O professor Joaquim
Magalhães, apaixonado das Letras ao longo de toda a sua vida, compilou os
versos de Aleixo para a publicação do primeiro livro, Quando Começo a Cantar.
Excertos do prefácio
escrito pelo professor para Este Livro Que Vos Deixo:
“A actualidade da mensagem deste poeta singular evidencia-se e toma relevo
crescente à medida que o tempo passa.
(…)
Considerado poeta menor, dado que, por carência de estudos regulares, pouco
menos era do que meio-analfabeto, verificou-se este fenómeno insólito: duas
edições de Este Livro Que Vos Deixo, mantiveram, durante semanas seguidas, o
primeiro lugar na lista dos livros mais vendidos no país.
(…)
E, sob a forma lapidarmente sintética de muitas das quadras do singular poeta
algarvio, explodia, ou sorria, a expressão contundente ou contestatária de
velados ou explícitos protestos, humanos e justos, perante uma sociedade
fortemente policiada e dificilmente vulnerável por outras formas directas de
crítica ou ataque frontal.”
António Aleixo, reconhecido pela valiosa ajuda do professor, dedicou-lhe esta quadra de agradecimento:
“Não
há nenhum milionário
Que seja feliz
como eu,
Tenho como
secretário
Um professor
do Liceu”
Ser Doido-Alegre, que maior Ventura!
Ser doido-alegre,
que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!
Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.
Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!
Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.
Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.
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