Daniel Faria (Baltar, Paredes, Portugal, 1971 – 1999).
Licenciou-se em
Teologia na Universidade Católica Portuguesa, no Porto.
Escolheu a vida
monástica, sendo considerado, por muitos críticos, o maior poeta místico
português do século XX.
A sua poesia fundamenta-se
na procura do Mistério de Deus.
Algumas das suas obras: A
vida e conversão de Frei Agostinho, entre a aprendizagem e o ensino da Cruz,
Uma cidade com Muralha, A Casa dos Ceifeiros, Poesia
– Daniel Faria.
Palavras
de Daniel Faria:
“Sei
bem que não mereço um dia entrar no céu, mas nem por isso escrevo a minha casa
sobre a terra.”
As mulheres aspiram a casa
para dentro dos pulmões
As mulheres aspiram a casa
para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em
árvores cheias de ninhos - digo,
As mulheres - ainda que as
casas apresentem os telhados inclinados
Ao
peso dos pássaros que se abrigam.
É à janela dos filhos que as
mulheres respiram
Sentadas nos degraus olhando
para eles e muitas
Transformam-se
em escadas
Muitas mulheres transformam-se
em paisagens
Em árvores cheias de crianças
trepando que se penduram
Nos ramos - no pescoço das
mães - ainda que as árvores irradiem
Cheias
de rebentos
As mulheres aspiram para
dentro
E geram continuamente.
Transformam-se em pomares.
Elas arrumam a casa
Elas põem a mesa
Ao
redor do coração.
Daniel Faria
Imagem:
pintura de Júlio Resende (Porto, Portugal, 1917 – Gondomar, Portugal, 2011).
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