sexta-feira, 18 de março de 2016

GEORG TRAKL - De profundis






Georg Trakl (Salzburgo, Áustria, 1887 – Cracóvia, Polónia, 1914).

É considerado, postumamente, um dos maiores poetas expressionistas austríacos do início do século XX.
Os seus poemas são caracterizados por imagens de decadência, solidão, desespero, morte.
O Outono e a noite são os temas principais da sua obra poética.



Palavras de Georg Trakl:
“Só aquele que despreza a felicidade terá o conhecimento.”



                       De profundis

Há um restolhal onde cai uma chuva negra.
Há uma árvore castanha que está sozinha.
Há um vento sibilante que gira à volta das cabanas vazias.
Como é triste esta noite.

Ao lado da aldeia
A doce órfã ainda colhe espigas raras.
Os seus olhos redondos e dourados percorrem o crepúsculo
E o seu colo aguarda o noivo celestial.

De regresso a casa
Os pastores encontraram o doce corpo
Decomposto no espinhal.

Eu sou uma sombra, aldeias distantes e obscuras.
Bebi o silêncio de Deus
Na fonte do bosque.

Na minha fronte galopou um metal frio
Aranhas procuram o meu coração.
Há uma luz que se extinguiu na minha boca.

À noite dei comigo numa charneca,
Cheio de lixo e poeira de estrelas.
Nas avelaneiras tilintavam de novo
Anjos cristalinos.


Tradução: Luís Costa


Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...