Maurice Béjart (Marselha, França, 1927 – Lausana, Suiça, 2007).
Nasceu
francês, morreu suíço e disse (dias antes de falecer) que queria acabar com a
cidadania belga.
Béjart é
um nome bem conhecido dos portugueses não só porque, em 1947, actuou em Lisboa
com o Ballet Solange Schwarz, como coreografias suas foram, posteriormente,
aqui dançadas pelos Ballets des Étoiles de Paris, pelos Ballets de Paris, por
Rosella Hightower, pelo Summer Festival Ballet, por Sylvie Guillem (com Laurent
Hilaire) e pelo Ballet Gulbenkian, entre outros.
Companhias
sob a sua direcção também visitaram Portugal, designadamente, o Ballet Théâtre
Maurice Béjart (1959), os Ballets do Século XX (em 65, 68 e 74) e o Béjart
Ballet Lausanne, em 1998, 2002 e 2004.
Ao longo
da sua profícua carreira o coreógrafo marselhês evoluiu de obras mais
intimistas para bailados de grandes massas. Ele terá sido um dos primeiros
criadores contemporâneos a investir em espectáculos para espaços abertos como
nos Jogos Olímpicos de Montreal, nos Festivais de Avignon ou nas festas do
Partido Comunista Francês, no Parque de La Courneuve, em Paris.
O seu
trabalho, essencialmente baseado na técnica académico-clássica, possui uma
forte vertente física e sensual, destacando-se um evidente peso da componente
masculina nas suas coreografias.
O seu
fascínio pela dança indiana, cujos princípios incorporou em algumas das suas
mais belas obras, e uma aura de misticismo, vieram-lhe através da filosofia
oriental. Aliás, antes da dança, Maurice Béjart teve formação em filosofia, já
que era filho do filósofo Gaston Berger. Converteu-se ao islamismo em 1973.
É de
destacar também a sua acção pedagógica através da criação de duas escolas
emblemáticas, a Mudra, em Bruxelas e Dakar, e a Rudra, em Lausanne, de onde
saíram nomes como Anne Teresa de Keersmaeker e Maguy Marin. Alguns portugueses
passaram por ambas mas apenas Jorge Trincheiras fez parte do elenco de uma das
suas companhias, o Ballet do Século Vinte.
Entre as
suas peças de referência contam-se ‘A Sagração da Primavera’, ‘O Pássaro de
Fogo’, ‘Romeu e Julieta’, ‘Bolero’, ‘Nona Sinfonia’ e ‘Bakti’.
Logo a
seguir à revolução de 25 de Abril, em 74, Béjart fez saber junto da Fundação
Gulbenkian que desejava voltar a Lisboa, por estar banido dos palcos
portugueses desde 68, após ter sido conduzido à fronteira espanhola a seguir a
um espectáculo do seu "Romeu e Julieta", no Coliseu.
Como introdução
da obra, no dia a seguir à morte de Robert Kennedy, Béjart fez um discurso
antiditatorial pelo que foi expulso pela Pide perante a passividade de
artistas, políticos e da própria Fundação Calouste Gulbenkian. Diz-se que
Azeredo Perdigão, o então presidente da FCG, teve uma "zanga" com
Oliveira Salazar devido a este incidente.
Como
atrás se afirmou, Maurice Béjart regressou em 74, com o mesmo "Romeu e
Julieta" de 68. Em 93, obras suas foram dançadas num programa de concerto
protagonizado por Laurent Hillaire e pela mega estrela da Ópera de Paris,
Sylvie Guillem, nos Encontros Acarte.
Em 98, veio a Lisboa com "Le
Prebistère N'a Rien Perdu de Son Charme, ni le Jardin de Son Éclat" - peça
concebida como homenagem a Jorge Donn e a Freddie Mercury.
Fonte:
Revista da Dança
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Palavras de Maurice Béjart:
"Eu creio que a gente morre sempre a tempo. O tempo é
contado de maneira diferente para cada um, mas nós morremos a tempo".
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