FADO
DA PARÓDIA À CASA DA MARIQUINHAS
É numa rua bizarra
a casa da Mariquinhas…
Tem na sala uma guitarra,
Janelas
com tabuinhas.
Vive com muitas amigas
Aquela
de quem vos falo,
e
caso é que são de estalo
todas
essas raparigas!
É
doida pelas cantigas,
faz
vida como a cigarra,
se
geme o fado à guitarra
até
parece que chora,
e
a casa onde ela mora
é numa rua bizarra
Para
se tornar notada
Usa
coisas esquisitas.
Muitas
rendas, muitas fitas,
E
todas de cor variada.
Pretendida
e desejada,
Não
pensa em coisas mesquinhas
Nem
se rala co´as vizinhas
Que
bramam, constantemente,
Por
verem cheia de gente
A casa da Mariquinhas.
A
casa é simples, singela,
Não
muito bem mobilada,
Mas
vou falar-vos do nada
Que
conheço em casa dela:
No
vão de cada janela
Uma
coluna e uma jarra,
móveis
de forma bizarra,
quadros
de gosto magano,
e,
em vez de ter um piano,
tem na sala uma guitarra.
Para
guardar seu espólio,
Um
cofre-forte comprou
E,
como a gás acabou,
O
candeeiro é de petróleo.
Limpa
seus móveis com óleo
de
amêndoa doce, e as vizinhas
da
casa da Mariquinhas
tentam
ver que lá se passa,
mas
ela tem, por pirraça,
janelas com tabuinhas.
in “A Paródia” – Caim - 12 de Janeiro de 1923
Imagem: pintura de Albino Moura (Lisboa, Portugal,
1940).
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