João Gaspar Simões (Figueira da Foz, Portugal, 1903 – Lisboa, 1987).
Considerado
por Mário Sacramento como “o primeiro grande crítico da nossa história das
letras” e por José Cardoso Pires como aquele que “abriu o capítulo da Crítica
numa literatura onde apenas se assinalavam rasgos de polémica ocasional, desde
José Agostinho de Macedo ao republicano Alexandre da Conceição, com desgarradas
passagens por Eça, Camilo, Ramalho, etc.”, para depois, “pegar no exemplo de
Moniz Barreto com vista a uma actividade regular da crítica; e nobilitá-la; e
persistir nela ao longo de cerca de quarenta anos”, João Gaspar Simões foi, de
facto, em que pese o ressabiamento mal escondido de tantos que nunca lhe
perdoaram os arranhões (quiçá injustos) neles deixados pelo autor de Liberdade de Espírito (1948), a mais
substancial e persistente figura de crítico de toda a nossa história literária.
(…)
Dá-se
à boémia estudantil de cariz intelectual, frequenta tertúlias e, com Afonso
Duarte, António de Sousa, Branquinho da Fonseca, Campos de Figueiredo e Vitorino
Nemésio funda a revista “Tríptico”, em 1924, na qual colaborará, lado a lado
com, além dos escritores citados, Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro, José
Régio, Alberto de Serpa, Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes, entre outros. (…)
Leitor
omnívoro e espírito independente, a sua frontalidade e o seu gosto certeiro
fizeram-lhe uma profusão de amigos e admiradores e uma não menor profusão de
inimigos e detractores. Mas a afirmação de David Mourão-Ferreira, segundo o qual
o autor de Novos Temas (1938) se
teria evidenciado, “com isenção e independência exemplares, a própria
consciência da literatura”, ainda hoje se tem de pé.
João
Gaspar Simões, ao contrário de todos os outros codirectores da “Presença”, nunca
fez qualquer incursão pelo território da poesia. E o seu teatro – O Vestido de Noiva (1952) e Marcha Nupcial (1964) – não tem
condições de perdurabilidade.
Mas já, no domínio do romance, do conto e da
novela, deixou obras significativas, que são, provavelmente, marcos duradouros:
Elói ou Romance numa Cabeça (1932); Pântano (1940); Amigos Sinceros (1941); A
Unha Quebrada (1941) e Internato
(1946).
Dando à psicologia – com José Régio –, na ficção, uma importância que
ela até aí não tivera, isto mesmo lhe (lhes) valeu a incompreensível acusação
de “excesso de psicologismo”...
No
sector da biografia, em que pesem as reservas que se lhe possam pôr, deixou-nos
duas obras que são, ainda hoje, de referência obrigatória: Eça de Queirós, o Homem e o Artista (1945) e Vida e Obra de Fernando Pessoa (1950).
Fonte: Instituto Camões – (excertos)
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