O RISO
Um monge vivera os últimos
anos da sua velhice na mais absoluta paz. Encontrava-se no seu leito,
agonizante, e os seus colegas do mosteiro choravam à sua volta. De repente, o
monge lançou três sonoras gargalhadas.
- Irmão – sussurraram os
monges -, como se pode rir se nós estamos a chorar?
- A primeira gargalhada
foi pelo vosso medo da morte; a segunda porque não estão preparados para
enfrentá-la; e a terceira porque eu passo da fadiga ao descanso e vocês, em vez
de se alegrarem, andam para aí a choramingar.
Dito isto, fechou os olhos
aprazivelmente e expirou.
A
morte faz parte da vida. Uma e outra correspondem-se e complementam-se. Não é
fácil relacionarmo-nos com a morte e, menos ainda, afrontá-la com equanimidade.
Mas a morte pode encarar-se como conselheira e pode ajudar-nos a superar a
nossa petulância, os apegos tolos e as mesquinhices.
in “Os Melhores Contos Espirituais do Oriente” – RAMIRO CALLE (Madrid, Espanha, 1943), escritor e mestre de yoga.
Imagem: pintura de Shitao
(China, 1642 – 1707)
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