O
ROQUE E A AMIGA
Roque meteu a chave à
porta e, ouvindo acordes de um tango, franziu o sobrolho, interrogativo.
A amiga, aparecendo à
porta da cozinha secando uma última lágrima, deu de caras com Roque que,
sorrindo, lhe oferecia um ramo de cravos, Vendo-a descomposta, Roque perguntou,
apaziguador:
- Mas então o que é isso?
A mãe surgiu por trás da
amiga, protectora. Roque avançou rápido, beijou-a prodigamente e perguntou
afável:
-
Então, minha querida sogra, por cá?
-
Não me beije – deitou-lhe a sogra, tarde demais. – Você é um monstro!
-
Eu? – surpreendeu-se Roque, voltando-se, inocente, para a amiga.
- É, Roque – a amiga
hesitou. – Sabe… você às vezes excede um bocadinho a minha escala…
Roque abraçou-a pela
cintura e perguntou, quase meigo:
- Não é por causa da
americana, pois não?
A amiga sorriu ao de leve.
- Não, Roque – e
acrescentou: - Estou tão contente por você ter voltado!
A amiga beijou-o
longamente e a mãe insurgiu-se:
- Mas então… tanto barulho
para nada?
A amiga voltou-se para a
mãe e, piscando-lhe o olho, murmurou:
- É que o Roque, mãe … O
Roque é diferente: o Roque é outra música.
in “Pão com Manteiga” (1980) – Bernardo Brito e Cunha, Carlos Cruz, Eduarda Ferreira, José Duarte, Mário Zambujal, Orlando Neves.
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