JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA
(Lisboa, Portugal, 1744 - 1787)
Cientista,
poeta, tradutor, professor
***
Poeta de raiz arcádica, educado
pelos Oratorianos, com quem estudou, foi elevado a catedrático de Geometria pelo
Marquês de Pombal, quiçá em virtude do seu racionalismo que, embora tolerante, o
levara, algumas vezes, a manifestar a sua dúvida em coisas da religião.
Atitude
que, mais tarde, no reinado de D. Maria I, dera origem á sua prisão, durante três
anos, e à sua reconciliação com a Igreja, num acto de fé em que foi obrigado a apresentar-se
descalço e em hábito de penitência.
É considerado um dos
pré-românticos portugueses.
in “Literatura Portuguesa”
***
OS PORQUÊS DO AMOR
Céu,
porque tão convulso e consternado
Me
bate, ao Vê-la, o coração no peito?
Porque
pasma entre os beiços congelado,
Indo
a falar-lhe, o tímido conceito?
Porque
nas áureas ondas engolfado
Da
caudalosa trança, inda que afeito,
Me
naufraga o juízo embelezado,
E em ternura suavíssima
desfeito?
Porque
a luz dos seus olhos, tão activa,
Por
lânguida inda mais encantadora,
Me
cega, e por a ver, ansioso, clamo?
Porque
da mão nevada sai tão viva
Chama,
que me electriza e me devora?
Os mesmos meus porquês me
dizem: - Amo!
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