Almada
Negreiros (1893-1970) nasceu em São Tomé e Príncipe.
Foi pintor, escritor, poeta, dramaturgo e romancista, sendo conhecido
como “Mestre Almada”.
Colaborou em várias revistas literárias. Escreveu e ilustrou o jornal manuscrito “Parva".
Integrou
o grupo "Orpheu", no qual conviveu com Fernando Pessoa. Ficou célebre o seu “Manifesto
Anti Dantas e por Extenso”.
Fez várias conferências, sendo a maioria publicada em revistas e
jornais.
Realizou, vestido de operário, a conferência “Ultimatum Futurista às
Gerações Portuguesas do Século XX”.
Concebeu a coreografia dos bailados "A Princesa dos Sapatos de
Ferro" e "O Jardim da Pierrette". No primeiro também dançou. Foi
actor no filme “O Condenado”. Realizou o bailado “O Sonho da Rosa”.
Participou em diversas exposições de arte, designadamente na “1ª
Exposição dos Humoristas Portugueses”, considerada a pioneira do modernismo
português; na "6ª Exposição de Arte Moderna" e na "Exposição Artistas Portugueses"
apresentada no Rio de Janeiro, no Brasil.
Na sua faceta de artista plástico, destacam-se os
seguintes trabalhos: frescos da Gare Marítima de Alcântara e da Gare Marítima da
Rocha do Conde de Óbidos; dois painéis para a Brasileira do Chiado; o painel
“Começar” no átrio da Fundação Calouste Gulbenkian, etc.
Uma das suas obras mais conhecidas é o célebre retrato de Fernando
Pessoa sentado à mesa do restaurante “Irmãos Unidos”. Sobre a mesa está o
exemplar nº 2 do “Orpheu”. Desde 1993, esta obra encontra-se em exposição na
Casa Fernando Pessoa, em Lisboa.
Como pintor integrado no movimento cubista, desenvolveu a sua
actividade criativa na tapeçaria e na decoração.
Como escritor publicou, entre outros, os livros: Antes de Começar,
Deseja-se Mulher, A Engomadeira, Meninos de Olhos de Gigante. Durante a sua estadia em Paris escreveu “Histoire
du Portugal par Coeur”.
Almada Negreiros foi um dos grandes nomes da cultura portuguesa do
século XX.
“As pessoas que eu
mais admiro são aquelas que nunca acabam.”
Confidências
Mãe! Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não
viajei!
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens
E a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar.
Traz tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue verdadeiro, encarnado!
Eu ainda não fiz viagens
E a minha cabeça não se lembra senão de viagens!
Eu vou viajar.
Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa.
Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão
parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa.
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa. Como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
Almada
Negreiros
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