O
Futuro Perfeito
À minha neta Anica
A neta explora-me os dentes,
Penteia-me como quem carda.
Terra da sua experiência,
Meu rosto diverte-a, parda
Imagem dada à inocência.
Penteia-me como quem carda.
Terra da sua experiência,
Meu rosto diverte-a, parda
Imagem dada à inocência.
Finjo que lhe como os dedos,
Fura-me os olhos cansados,
Intima aos meus próprios medos
Deixa-mos sossegados.
Fura-me os olhos cansados,
Intima aos meus próprios medos
Deixa-mos sossegados.
E tira, tira puxando
Coisas de mim, divertida.
Assim me vai transformando
Em tempo da sua vida.
Coisas de mim, divertida.
Assim me vai transformando
Em tempo da sua vida.
Vitorino
Nemésio, poeta e escritor português, in “O Verbo e a Morte”
Imagem: quadro do pintor
suiço Albert Anker (1831-1910).
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