sábado, 19 de julho de 2014

CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS – (XI)

 

 
 
Cantigas ao Desafio

 
- Da figueira nace o figo,

Do figo se faz a passa,

Diga-me lá em cantigas,

Ó menina, a sua graça.

 

- Quem fala de mim, quem fala,

Quem de mim anda falando,

Se calhar quem assim fala

Já por mim andou chorando.

 

- Eu vou-me a fartar de rir

Se me vinhas a ganhar,

Como a ti podem vir

Até esses «se calhar».

 

- Em vendo certos fadistas

A cantar com presunção,

Salta-me o sangue às faíscas

De dentro do coração.

 

- Muito gosto eu de cantar

Onde os cantadores estão,

Se nalgum ponto me errar

Os senhores me ensinarão.

 

- Eu me vou fartar, de rir

Se chego a comprar barato,

Cantadores como tu és

Podem vir aos três ou quatro.

 

- Por se errar uma cantiga

Não se deixa de cantar,

Também o bom caçador,

Errou a peça no ar.

 

- Eu trago a minha colher,

Eu como que desunho,

Cala-te daí, gaiato,

Qu'inda t'assoas ao punho.

 

- Dá gosto de ouvir cantar

Aqueles que cantam bem;

Aqueles que cantam mal

Não dão gostos a ninguém.

 

- Se com o canto ganhasse

P'ra amparar minha velhice,

Até deixava de andar

Metida na pelintrice.

 

 

 

Cancioneiro Popular Português - J. Leite de Vasconcellos

Imagem: nova versão da pintura “Fado” de José Malhoa, exposta no Chiado, em Lisboa, por ocasião da candidatura do fado a Património da Humanidade.

 


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