sexta-feira, 11 de julho de 2014

TRINDADE COELHO

 
 
 
 

Trindade Coelho (1861-1908) nasceu em Mogadouro, Portugal.

Foi escritor, jurista e político.

Viajou até Cabo Verde para defender 33 presos políticos. Conseguiu libertá-los. Foi um sucesso que lhe conferiu maior prestígio como advogado.

Trindade Coelho foi um magistrado íntegro, corajoso e sempre amigo do povo. Colaborou nas campanhas pela educação popular.

Fundou e colaborou em diversos jornais e revistas.

Da sua bibliografia, destacam-se as obras: Manual Político do Cidadão Português, O ABC do Povo, Folhetos para o Povo, Meus Amores, In Illo Tempore, Livro de Leitura, Autobiografia e Cartas, O Senhor Sete, O Desajeitado, A Lareira, Abyssus-Abyssum.

Na obra literária do escritor sobressai a vivacidade dos diálogos e a descrição da paisagem campesina.

Trindade Coelho deu um valioso contributo à defesa e divulgação da língua mirandesa.

 

Palavras de Trindade Coelho:

“...Ser pacífico é meio caminho andado para ser bom; ser bom, meio caminho andado para ser justo; ser justo, meio caminho andado para ser vencedor, e portanto feliz. Eu ainda não creio que este mundo seja dos maus...”.

 

Excerto do livro “In Illo Tempore”:

 
“In illo tempore – no tempo em que João de Deus andava em Coimbra, havia na Lusa Atenas, que é terra de mulheres bonitas, duas senhoras muito formosas, que eram irmãs, - uma chamada Raquel e a outra Cândida.

A Raquel, principalmente, diz que era uma divindade; e a mocidade da Academia, sobretudo os poetas, bebiam os ares por ela! Não era branca nem morena; tinha uma cor de bronze, de uma suavidade encantadora, nariz grego, e então uns olhos extraordinários, aveludados, muito brilhantes e pestanudos, que eram a perdição da rapaziada!

Os pretendentes eram assim – aos cardumes… E a cabeça de rapaz sobre a qual esses olhos admiráveis pousassem por um instante, mesmo casualmente, era cabeça perdida; porque entrava logo de andar à roda, como se fosse uma ventoinha, e o menos que lhe acontecia era rebentar numa catadupa de versos - que nem sempre, diga-se a verdade, eram condignos da inspiradora…

Ora o João de Deus pertencia à ala dos namorados dessa divindade, se bem que nunca lhe falasse; e tanto, que a majestosa Raquel ficou sendo para ele uma espécie de musa, como para o Camões a Catarina, para o Dante a Beatriz, a Laura para o Petrarca, para Miguel Ângelo Vitória Colonna, etc.,etc.

Fez-lhe muitos versos, e aquela poesia A Vida, que a não há mais linda em todo o mundo; e fez-lhe depois, quando ela morreu, aquela elegia que tem o seu nome – Raquel –uma das melhores coisas que o génio humano tem produzido, e que João de Deus, por sinal, improvisou numa tourada, alheio, absorto, estranho ao mais formidável chinfrim que se tem desencadeado numa praça de touros!

Soubera a notícia da morte quando ia para lá; chegou e amodorrou-se a um canto: e quando se deu fé que a praça de touros tinha desabado, revolvida, de baixo para cima pelo furacão da rapaziada, foi dar com ele o João Vilhena, o seu fiel Acates, no mesmo lugar onde o deixara, e que por milagre tinha escapado! Pegou-lhe por um braço e levou-o dali, como se estivesse doido ou a dormir… (…) ”

Trindade Coelho, in “Illo Tempore”

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