Trindade Coelho (1861-1908) nasceu em
Mogadouro, Portugal.
Foi escritor, jurista e político.
Viajou até Cabo Verde para defender 33 presos
políticos. Conseguiu libertá-los. Foi um sucesso que lhe conferiu maior
prestígio como advogado.
Trindade Coelho foi um magistrado íntegro,
corajoso e sempre amigo do povo. Colaborou nas campanhas pela educação popular.
Fundou e colaborou em diversos jornais e
revistas.
Da sua bibliografia, destacam-se as obras: Manual Político do Cidadão
Português, O ABC do Povo, Folhetos para o Povo, Meus Amores, In Illo Tempore, Livro de Leitura, Autobiografia e Cartas, O
Senhor Sete, O Desajeitado, A Lareira, Abyssus-Abyssum.
Na obra literária do
escritor sobressai a vivacidade dos diálogos e a descrição da paisagem
campesina.
Trindade
Coelho deu um valioso contributo à defesa e divulgação da língua mirandesa.
Palavras de Trindade
Coelho:
“...Ser pacífico é meio caminho andado para
ser bom; ser bom, meio caminho andado para ser justo; ser justo, meio caminho
andado para ser vencedor, e portanto feliz. Eu ainda não creio que este mundo
seja dos maus...”.
Excerto do livro “In
Illo Tempore”:
“In illo tempore – no tempo em que
João de Deus andava em Coimbra, havia na Lusa Atenas, que é terra de mulheres
bonitas, duas senhoras muito formosas, que eram irmãs, - uma chamada Raquel e a
outra Cândida.
A Raquel, principalmente, diz que era uma divindade; e a
mocidade da Academia, sobretudo os poetas, bebiam os ares por ela! Não era
branca nem morena; tinha uma cor de bronze, de uma suavidade encantadora, nariz
grego, e então uns olhos extraordinários, aveludados, muito brilhantes e
pestanudos, que eram a perdição da rapaziada!
Os pretendentes eram assim – aos cardumes… E a cabeça de
rapaz sobre a qual esses olhos admiráveis pousassem por um instante, mesmo
casualmente, era cabeça perdida; porque entrava logo de andar à roda, como se
fosse uma ventoinha, e o menos que lhe acontecia era rebentar numa catadupa de
versos - que nem sempre, diga-se a verdade, eram condignos da inspiradora…
Ora o João de Deus pertencia à ala dos namorados dessa
divindade, se bem que nunca lhe falasse; e tanto, que a majestosa Raquel ficou
sendo para ele uma espécie de musa, como para o Camões a Catarina, para o Dante
a Beatriz, a Laura para o Petrarca, para Miguel Ângelo Vitória Colonna, etc.,etc.
Fez-lhe muitos versos, e aquela poesia A Vida, que a não há mais linda em todo o mundo; e fez-lhe depois,
quando ela morreu, aquela elegia que tem o seu nome – Raquel –uma das melhores coisas que o génio humano tem produzido, e
que João de Deus, por sinal, improvisou numa tourada, alheio, absorto, estranho
ao mais formidável chinfrim que se tem desencadeado numa praça de touros!
Soubera a notícia da morte quando ia para lá; chegou e
amodorrou-se a um canto: e quando se deu fé que a praça de touros tinha
desabado, revolvida, de baixo para cima pelo furacão da rapaziada, foi dar com
ele o João Vilhena, o seu fiel Acates, no mesmo lugar onde o deixara, e que por
milagre tinha escapado! Pegou-lhe por um braço e levou-o dali, como se
estivesse doido ou a dormir… (…) ”
Trindade
Coelho, in “Illo Tempore”
Sem comentários:
Enviar um comentário