Millôr Fernandes (Rio de Janeiro, Brasil, 1923 – 2012).
Humorista,
dramaturgo, escritor, tradutor, poeta, artista plástico e jornalista, destacou-se
pelo talento em todas estas actividades.
Colaborou,
com uma página semanal, no jornal português “Diário Popular”.
Palavras de Millôr Fernandes
“Dizem
que quando o Criador criou o homem, os animais todos em volta não caíram na
gargalhada apenas por uma questão de respeito.”
A Ambição Superada
Certo dia uma rica senhora viu, num antiquário, uma
cadeira que era uma beleza. Negra, feita de mogno e cedro, custava uma fortuna.
Era, porém, tão bela, que a mulher não titubeou - entrou, pagou, levou para
casa.
A cadeira era tão bonita que os outros móveis, antes tão
lindos, começaram a parecer insuportáveis à simpática senhora. (Era simpática).
Ela então resolveu vender todos os móveis e comprar outros
que pudessem se equiparar à maravilhosa cadeira. E vendeu-os e comprou outros.
Mas, então a casa que antes parecia tão bonita, ficou tão
bem mobilada que se estabeleceu uma desarmonia flagrante entre casa e móveis. E
a senhora começou a achar a casa horrível.
E vendeu a casa e comprou uma outra maravilhosa.
Mas dentro daquela casa magnífica, mobilada de maneira
esplendorosa, a mulher começou, pouco a pouco, a achar seu marido mesquinho. E
trocou de marido.
Mas mesmo assim não conseguia ser feliz. Pois naquela casa
magnífica, com aqueles móveis admiráveis e aquele marido fabuloso, todo mundo
começou a achá-la extremamente vulgar.
Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"
Imagem: pintura de Tarsila do Amaral (São Paulo, Brasil, 1886 – 1973).
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