Mia Couto (Beira, Moçambique, 1955).
É, actualmente,
o autor moçambicano mais traduzido e divulgado no estrangeiro.
Tem uma obra literária extensa
e diversificada, incluíndo poesia, contos, romance e crónicas.
Instituído pelos governos
português e brasileiro em 1988, o “Prémio
Camões” distingue, anualmente, um autor que, pelo conjunto da sua obra,
tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da
língua portuguesa.
Palavras
de Mia Couto:
“A nossa
língua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes
perdemos o rastro.”
Saudade
do sobressalto dos corpos
ferindo-se de ternura
dói-me a distante lembrança
do teu vestido
caindo aos nossos pés
Magoa-me
a saudade
do
tempo em que te habitava como o sal ocupa o mar
como a luz recolhendo-se
nas pupilas desatentas
Seja eu
de novo tua sombra, teu desejo
tua
noite sem remédio tua virtude, tua carência
eu
que longe de ti sou fraco
eu
que já fui água, seiva vegetal
sou agora gota trémula, raiz exposta
Traz
de
novo, meu amor, a transparência da água
dá ocupação à minha ternura vadia
mergulha os teus dedos
no feitiço do meu peito
e espanta na gruta funda de mim
os animais que atormentam o meu sono
Mia
Couto, in “Raiz de Orvalho”
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