Agustina
Bessa-Luís (Vila Meã, Amarante,
Portugal, 1922).
Recebeu, em 2004, o mais importante prémio literário da
língua portuguesa: o Prémio Camões.
Palavras de Agustina Bessa-Luís:
“A
intimidade excessiva desencadeia a hostilidade.”
A Construção da
Personalidade Criadora
A harmonia do comportamento social requer, todos o
sabemos, tanto o isolamento como o convívio. Excessiva comunicação, debates
exagerados de assuntos que requerem meditação e peso moral, avesso muitas vezes
à cordialidade natural das afinidades electivas, não enriquecem o património de
uma sociedade. Antes embotam e alteram o terreno imparcial da sabedoria.
A solidão
favorece a intensidade do pensamento; por outro lado, torna de certo modo
celerado o homem que lida com a força material, com a técnica, com os outros
homens.
O impulso é a força que actualiza estas duas atitudes. Os ricos de
impulso que se prontificam a uma reacção agressiva ou escandalosa, esses são
associais especialmente difíceis. Todo o revolucionário é associal, se o
impulso for nele um desvio da vida instintiva, e não uma atitude de homem capaz
de obedecer e mandar a si próprio.
«A felicidade máxima do filho da terra há-de ser a
personalidade» - disse Goethe. Personalidade criadora, obtida à custa do
ajustamento das nossas próprias leis interiores, que não serão mais, no futuro,
forças repelidas ou encobertas, mas sim valiosas contribuições para o tempo do homem.
Quando tudo for analisado e conhecido, só o justo há-de prevalecer.
Agustina
Bessa-Luís, in "Alegria do Mundo"
Imagem: pintura de Eileen Agar (Buenos Aires, Argentina,
1899 – Londres, Reino Unido, 1991).
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