Alexander Soljenitsin (Kislovodsk, Rússia,
1918 – Moscovo, Rússia, 2008).
As suas obras Arquipélago de Gulag e Um Dia na Vida de Ivan Denissovitch revelaram ao mundo, por
experiência própria, a horrorosa realidade dos campos de concentração
soviéticos.
Foi galardoado, em 1970, com o “Prémio Nobel de Literatura".
Palavras de Alexander
Soljenitsin:
“Nos
Gulags, o homem era reduzido a uma caricatura de humanidade - execuções,
estupros, tortura, doenças, fome e miséria.”
A
Detenção
Como se chega esse misterioso
Arquipélago? A todas as horas para lá voam aviões, navegam barcos e marcham
comboios, sem que neles se veja uma só inscrição que indique o lugar de
destino.
Os empregados das bilheteiras e
os agentes da Sovturista e da Inturista ficarão surpreendidos se você lhes
pedir uma passagem para lá. Nem do Arquipélago, no seu conjunto, nem de nenhum
dos seus incontáveis ilhéus eles têm conhecimento, ou ouviram sequer falar.
Aqueles que vão dirigir o
Arquipélago chegam lá por intermédio da Escola do Ministério do Interior.
Aqueles que vão ser guardas no
Arquipélago são convocados por intermédio de secções militares.
Aqueles que vão lá morrer, como
você e eu, leitor, esses devem passar infalível e exclusivamente através da
detenção.
Detenção!!! Será necessário
dizer que isso representa uma viragem brusca em toda a sus vida? Que é como a
queda a pique de um corisco sobre a sua cabeça? Que é uma comoção espiritual
insuportável, a que nem todas as pessoas podem adaptar-se, e que frequentemente
leva à loucura?
O universo tem tantos centros
quantos os seres vivos que nele existem.
Cada um de nós é o centro do
mundo e do universo, e ele desmorona-se quando alguém nos sussurra ao ouvido:
«Estás preso!»
Se você já está preso, acaso
algo resistiu ainda a esse terramoto?
Incapazes, com o cérebro
ofuscado, de abarcar esses abalos do universo, os mais subtis, bem como os mais
simples dentre nós, não conseguem extrair nesse instante, de toda a sua
experiência de vida, senão isto a dizer mais ou menos:
- Eu??? Porquê???
Pergunta
repetida milhões e milhões de vezes antes de nós, e
que
nunca obteve resposta.
Alexander Soljenitsin, in “Arquipélago de Gulag”.
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