Cristovam Pavia (Lisboa, Portugal,
1933 – 1968).
Publicou, aos vinte anos, os seus primeiros poemas nas
duas mais importantes revistas literárias desse período, a “Távola Redonda” e a
“Árvore”.
Fez parte do núcleo central da revista “O Tempo e o
Modo”, constituído pelos escritores :
Nuno de Bragança, Alberto Vaz da Silva, Pedro Tamen, João Bernard da Costa e
António Alçada Baptista.
Publicou, em 1959, 35
Poemas, a única obra poética editada em vida, na
qual se reconhece a originalidade da sua poesia.
Palavras
de Cristovam Pavia:
“Pensava que uma das poucas qualidades que tinha era a ausência de
inveja. Não é verdade. Invejo os poetas.”
Requiem
(ao
menino morto, eu próprio)
A
tarde declina com uma luz ténue.
Estou
grave e calmo.
E
não preciso de ninguém
Nem
a luz da tarde me comove: entendo-a.
Até as imagens me são inúteis porque contemplo tudo.
Os
ventos rodam, rodam, gemem e cantam
E
voltam. São os mesmos.
Como
os conheço desde a infância!
E
a terra húmida das tapadas da quinta...
O
estrume da égua morta quando eu tinha seis anos
Gira
transparente nesta brisa fria...
(Na
noite gotas de orvalho sumiam-se sob as folhas das ervas)
Oh,
não há solidão, nas neblinas de inverno
Pela
erma planície...
E
foi engano julgar-te morto e tão só nas tapadas em
silêncio...
Agora
sei que vives mais
Porque
começo a sentir a tua presença, grande como o silêncio...
Já
me não vem a vaga tristeza do teu chamamento longínquo
Já me confundo contigo.
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