Fernão
Lopes: ignoram-se as datas do seu nascimento e da sua morte,
aventando-se as de 1380 e 1460, respectivamente.
Guarda-mor das escrituras da
Torre do Tombo desde 1418, Fernão Lopes foi nomeado cronista-mor do Reino em
1434 por el-rei D. Duarte, de quem recebeu o encargo de escrever as crónicas
dos dez monarcas seus antecessores.
Da vasta obra a que se
meteu ombros apenas se conhecem hoje, como sendo indiscutivelmente da sua
autoria, a Crónica de D. Pedro I, a Crónica de D. Fernando I e a Crónica de D. João I (1ª E 2ª partes).
Esta última crónica, a mais importante de todas, foi concluída pelo seu
sucessor, Gomes Eanes de Zurara, que compôs a terceira parte, conhecida pela
designação de Crónica da Tomada de Ceuta.
Pelo que respeita às restantes crónicas, cujos textos se desconhecem, supõe-se
que teriam sido utilizadas por Rui de Pina (1440-1525), cujo nome subscreve as
crónicas anteriores a D. Pedro I.
Foi principal preocupação
do nosso primeiro cronista legar-nos a «clara certidom da verdade», baseada em
documentação histórica fidedigna, para o que procedeu a demoradas e laboriosas
buscas por todo o país. Pela sua indiscutível probidade, por se conservar
atento a toda a complexidade do real histórico, em vez de, como os cronistas
coevos de outros países, se fixar na preferência da efeméride política ou
militar, por ver as coisas principalmente do ponto de vista do colectivo, do
social, Fernão Lopes revela uma concepção de história muito adiantada em
relação à do seu tempo.
Além de ter sido o nosso
primeiro grande historiador, Fernão Lopes foi também o primeiro grande prosador
da língua portuguesa e um dos mais geniais de todos os tempos.
O seu estilo,
simples e corrente, graciosamente arcaizante, é animado por um colorido e
pitoresco inigualáveis, em especial nas descrições da multidão. De notar ainda,
como característica fundamental, é o seu poderoso visualismo que confere
interesse espectacular às cenas descritas.
in “Selecta Literária”
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