Tomaz de Figueiredo (Braga, Portugal, 1902 – Lisboa, 1970).
Cursou Direito em Coimbra e Lisboa, onde se formou.
Até 1960 exerceu funções notariais em vários concelhos do país. Nessa data fixou-se em Lisboa, entregue apenas à actividade literária.
Publicou romances, novelas, poesia e peças de teatro. Com a sua tardia estreia, A Toca do Lobo,1947, obteve o Prémio Eça de Queirós, Tiros de Espingarda, 1966, mereceu o Prémio Nacional de Novelística.
Contribuiu para o ressurgimento
da tradição romanesca camiliana, sendo as suas obras caracterizadas por um
estilo onde o casticismo se funde com o lirismo e por uma técnica narrativa
singularmente moderna.
in
“Portugal Século XX”
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Para quê me deste à Vida?
Para que foi, ó
Mãe, que me criaste?
Mas — antes! — para quê me deste à vida?
Emendando: porquê, de espavorida,
o pescoço me não estorcegaste?
Melhor andaras, Mãe, pois destinaste,
assim, a tua carne a ser perdida.
Ah! Mãe! Na tua gélida jazida,
saberás que, ao seres mãe, me assassinaste?
Se o sabes, no teu ventre, como cunhas,
deves cravar, em desespero, as unhas,
deves na campa estertorar aos ais.
Aqui estou, Mãe, agora, nestas ânsias.
Aqui estou, sem estar. Rojo em distâncias,
só e sem mim, — que é um só demais.
Emendando: porquê, de espavorida,
o pescoço me não estorcegaste?
Melhor andaras, Mãe, pois destinaste,
assim, a tua carne a ser perdida.
Ah! Mãe! Na tua gélida jazida,
saberás que, ao seres mãe, me assassinaste?
Se o sabes, no teu ventre, como cunhas,
deves cravar, em desespero, as unhas,
deves na campa estertorar aos ais.
Aqui estou, Mãe, agora, nestas ânsias.
Aqui estou, sem estar. Rojo em distâncias,
só e sem mim, — que é um só demais.
in “Antologia Poética”
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