quinta-feira, 15 de setembro de 2016

TOMAZ DE FIGUEIREDO - Para quê me deste à Vida?







Tomaz de Figueiredo (Braga, Portugal, 1902 – Lisboa, 1970).

Cursou Direito em Coimbra e Lisboa, onde se formou. 

Até 1960 exerceu funções notariais em vários concelhos do país.  Nessa data fixou-se em Lisboa, entregue apenas à actividade literária. 

Publicou romances, novelas, poesia e peças de teatro. Com a sua tardia estreia, A Toca do Lobo,1947, obteve o Prémio Eça de Queirós, Tiros de Espingarda, 1966, mereceu o Prémio Nacional de Novelística. 

Contribuiu para o ressurgimento da tradição romanesca camiliana, sendo as suas obras caracterizadas por um estilo onde o casticismo se funde com o lirismo e por uma técnica narrativa singularmente moderna.


in “Portugal Século XX”


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Para quê me deste à Vida?


Para que foi, ó Mãe, que me criaste? 
Mas — antes! — para quê me deste à vida? 
Emendando: porquê, de espavorida, 
o pescoço me não estorcegaste? 
Melhor andaras, Mãe, pois destinaste, 
assim, a tua carne a ser perdida. 
Ah! Mãe! Na tua gélida jazida, 
saberás que, ao seres mãe, me assassinaste? 
Se o sabes, no teu ventre, como cunhas, 
deves cravar, em desespero, as unhas, 
deves na campa estertorar aos ais. 

Aqui estou, Mãe, agora, nestas ânsias. 
Aqui estou, sem estar. Rojo em distâncias, 
só e sem mim, — que é um só demais. 

in “Antologia Poética” 





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