Canção
da Engeitada
(Versão
do Algarve)
Não
conheço pae, nem mãe,
Nem
n´esta terra parentes,
Sou
filha das pobres hervas,
Neta das aguas correntes.
Os meus
pães me abandonaram,
Foram-se
todos os meus;
Entre
os filhos da desgraça
Só tenho a graça de Deos.
Caridade abriu-me os braços,
Nelles meus olhos abri,
Nem tem o mundo outro amparo
Para me amparar
a mim.
Vivo
como em terra extranha,
Não
conhecendo ninguém;
Vivo
como um peregrino
Que vê tudo e nada tem.
Em toda
a terra não acho
Quem
por mim conceba dó,
A não
ser a caridade
Com quem vivo triste e só.
Caridade,
ai caridade,
Alivio
da minha dor,
Para
pagar teus affectos
Só tenho prantos de amor.
Esta canção está incluída no “Cancioneiro Popular” de 1867,
coligida por Teófilo Braga.
Ilustração: “Weeping Woman”,
de Vincent van Gogh.
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