domingo, 12 de janeiro de 2014

Cancioneiro Popular - (V)

 
 

 
Canção da Engeitada

(Versão do Algarve)

 
Não conheço pae, nem mãe,

Nem n´esta terra parentes,

Sou filha das pobres hervas,

Neta das aguas correntes.

 

Os meus pães me abandonaram,

Foram-se todos os meus;

Entre os filhos da desgraça

Só tenho a graça de Deos.

 

Caridade abriu-me os braços,

Nelles meus olhos abri,

Nem tem o mundo outro amparo

Para me amparar a mim.

 

Vivo como em terra extranha,

Não conhecendo ninguém;

Vivo como um peregrino

Que vê tudo e nada tem.

 

Em toda a terra não acho

Quem por mim conceba dó,

A não ser a caridade

Com quem vivo triste e só.

 

Caridade, ai caridade,

Alivio da minha dor,

Para pagar teus affectos

Só tenho prantos de amor.

 

Esta canção está incluída no “Cancioneiro Popular” de 1867, coligida por Teófilo Braga.

Ilustração: “Weeping Woman”, de Vincent van Gogh.

 


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