Trabalhadores do Mar
Às
dez horas parte o barco,
Às
onze horas larga a vela;
Ao
meio dia em ponto
Parte
o meu amor da terra.
As
ondas do mar são verdes,
As
do meio amarelas;
Coitadinho
de quem nasce
Para
andar no meio delas!
As
ondas do mar são verdes,
Por
dentro são amarelas;
Coitado
do meu amor
Que
navega dentro delas!
Eu
cá vou pelo mar dentro,
Já
não vejo minha terra,
Só
vejo o mar e vento
E
a auga que me leva
Eu
corri o mar à roda,
Com
uma vela branca acesa;
No
mar não achei fundura,
Em
vós não achei firmeza!
Eu
corri o mar à roda,
Nas
asas dumas formigas;
Já
perdi o tacto à terra,
E
a amizade às raparigas.
Ó
mar bravo, ó mar bravo,
Que
assim andas furioso!
Se
tu, mar, foras casado,
Serias
mais amoroso!
Ó
mar, colchão dos navios,
Ó
cama dos marinhêros,
Ó
navio que me levaste
Os
mês amores verdadêros.
Cancioneiro
Popular Português de J. Leite de Vasconcellos
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