Rosa Alice Branco nasceu na
cidade de Aveiro, em1950.
Poetisa e professora, é doutorada em Filosofia Contemporânea.
Participou no Grupo de Estudos de Semiótica e Poética do Porto.
Da sua bibliografia destacam-se os
livros: “Animais da Terra”; “A Mão Feliz. Poemas D(e)ícticos”; “Somos o teu Gado, Senhor”.
Reuniu
os seus poemas na colectânea: “Soletrar do Dia”.
Rosa Alice Branco representou Portugal no “Festival de Poesia Pamassus”, que integrou as celebrações dos Jogos Olímpicos 2012, em Londres.
Palavras de Rosa Alice Branco:
“A Poesia como celebração do quotidiano é um bom
sintoma de outra postura de vida. As palavras despem-se do medo de serem apenas
palavras, mas passamos de uma dimensão representativa a uma dimensão mais
apresentativa. Há toda uma intimidade, uma aproximação furtiva ao quotidiano que
lhe retira a banalização do olhar.”
Por um dia
de Inverno
dois filhos e carne fresca estendida como roupa
no varal. Lembro-me do orgulho com que passava a mão
pelo cachaço. Lembro-me da peixeira
que nos acordava de manhã «peixe fresco
tão vivinho» e como era caro o estertor do linguado.
Mesmo as alfaces são frescas depois de mortas,
o molho de nabiças, até de uma cenoura esperamos
que seja fresca ali no prato com o linguado rigorosamente
apartado das espinhas. Tão fresco! O homem do talho
vai a enterrar depois do almoço. Agora jaz na capela mortuária
de rosto descoberto para a família e os curiosos. O homem
do talho morreu cansado, mas agora está fresco:
foi abatido ontem, será embalado às quatro da tarde.
Rosa Alice
Branco, in "Da Alma e dos Espíritos Animais"
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