JOSÉ GOROSTIZA (Villahermosa,
Tabasco, México, 1901 –
Cidade do México, México, 1973).
Poeta,
professor e diplomata, foi um dos membros mais destacados do grupo
“Contemporâneos”, movimento que tinha como objectivo recuperar o carácter
universal da poesia.
A sua obra,
embora seja escassa, é marcada por um alto nível de perfeccionismo.
Morte sem Fim, é um dos poemas longos mais importantes, escrito em espanhol do século
XX.
Pertenceu à “Academia Mexicana da Língua”.
Palavras de José Gorostiza:
“A morte tem um sabor a terra. E a angústia, um sabor a fel.”
A Casa do Silêncio
A casa do silêncio
ergue-se numa dobra da
montanha,
com o capuz de telhas
carcomido.
E parece tão dócil
que se comove com o
ruído
de uma árvore vizinha,
onde sonha
o amoroso conclave de um
ninho.
Ninguém talvez a tenha
habitado
nem querido,
e lá nunca vivessem
homens;
mas o seu lento coração
palpita
com profundo pulsar de
resignado
quando o rumor a fere
e sangra pelo trêmulo
costado.
Imagino, na casa do
silêncio,
um pátio luminoso,
decorado
pela erva que rói os
canais
e um muro despintado
ao cair das chuvas
torrenciais.
E nas noites azuis,
penso-a conturbada se
pressente
um balbucio de luz nos escabelos,
e ouço-a verter com um ruído
quase imperceptível já, contido,
seu choro paternal de três mil anos.
um balbucio de luz nos escabelos,
e ouço-a verter com um ruído
quase imperceptível já, contido,
seu choro paternal de três mil anos.
José Gorostiza
Tradução:
Horácio Costa
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