quarta-feira, 6 de maio de 2015

JOSÉ GOROSTIZA - A Casa do Silêncio

 
 
 
 
 
 
 JOSÉ GOROSTIZA (Villahermosa, Tabasco, México, 1901 – Cidade do México, México, 1973).

Poeta, professor e diplomata, foi um dos membros mais destacados do grupo “Contemporâneos”, movimento que tinha como objectivo recuperar o carácter universal da poesia.

A sua obra, embora seja escassa, é marcada por um alto nível de perfeccionismo.

Morte sem Fim, é um dos poemas longos mais importantes, escrito em espanhol do século XX.

Pertenceu à “Academia Mexicana da Língua”.
 
 
Palavras de José Gorostiza:
“A morte tem um sabor a terra. E a angústia, um sabor a fel.”
 
 
 
         A Casa do Silêncio

 

 

A casa do silêncio
ergue-se numa dobra da montanha,
com o capuz de telhas carcomido.
E parece tão dócil
que se comove com o ruído
de uma árvore vizinha, onde sonha
o amoroso conclave de um ninho.
 

Ninguém talvez a tenha habitado
nem querido,
e lá nunca vivessem homens;
mas o seu lento coração palpita
com profundo pulsar de resignado
quando o rumor a fere
e sangra pelo trêmulo costado.
 
Imagino, na casa do silêncio,
um pátio luminoso, decorado
pela erva que rói os canais
e um muro despintado
ao cair das chuvas torrenciais.
 
E nas noites azuis,
penso-a conturbada se pressente
um balbucio de luz nos escabelos,
e ouço-a verter com um ruído
quase imperceptível já, contido,
seu choro paternal de três mil anos.


José Gorostiza
Tradução: Horácio Costa

                      

 
 
 
 

 
 
 
 

 

 

 
 

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