segunda-feira, 19 de outubro de 2015

HOMENAGEM de VERGÍLIO FERREIRA a JORGE DE SENA

 
 





Homenagem de Vergílio Ferreira a Jorge de Sena

 
Agora que a morte o arredou de todos, agora que se alargou o espaço em que os inimigos se moviam, agora é a altura de sua obra o substituir. Que espaço ocupado por ele será ocupado por ela?
 
Acabadas as razões emocionais de todos, quando sobretudo a morte os suprimir a eles e a obra ficar definitivamente sozinha, creio que a sua poesia ouvir-se-á ainda melhor, harmonizada com a dos grandes poetas deste século português.
 
Da prosa, é impecável a de certos contos, nomeadamente a daquele que nos fala de Camões já no fim da vida, traçando o percurso da sua amargura na Sôbolos rios que vão.
 
Das coisas eruditas, não sei. Mesmo os ensaios, foi pena que ele tropeçasse tanto na maledicência e não abrisse apenas caminho por onde ela não houvesse.
 
De qualquer modo, um livro como Metamorfoses será sempre uma revelação de beleza, de grandeza humana, de fascinação.
 
O resto, a legenda agressiva de Sena, será esquecida, para esquecer, ou para lembrar, apenas no anedotário dos grandes homens.
 
Paz ao Sena morto, viva a sua poesia.


Vergílio Ferreira, in “Conta-Corrente II”
Imagem: pintura de William Turner (Reino Unido, 1775 – 1851)

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