Homenagem
de Vergílio Ferreira a Jorge de Sena
Acabadas as razões emocionais de todos, quando sobretudo a morte os suprimir a eles e a obra ficar definitivamente sozinha, creio que a sua poesia ouvir-se-á ainda melhor, harmonizada com a dos grandes poetas deste século português.
Da prosa, é impecável a de certos contos, nomeadamente a daquele que nos fala de Camões já no fim da vida, traçando o percurso da sua amargura na Sôbolos rios que vão.
Das coisas eruditas, não sei. Mesmo os ensaios, foi pena que ele tropeçasse tanto na maledicência e não abrisse apenas caminho por onde ela não houvesse.
De qualquer modo, um livro como Metamorfoses será sempre uma revelação de beleza, de grandeza humana, de fascinação.
O resto, a legenda agressiva de Sena, será esquecida, para esquecer, ou para lembrar, apenas no anedotário dos grandes homens.
Paz ao Sena morto, viva a sua poesia.
Vergílio Ferreira, in “Conta-Corrente II”
Imagem: pintura de William Turner (Reino Unido, 1775 – 1851)
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