Anna
Akhmatova (Odessa, Ucrânia,
1889 - Rússia,1966).
Além de ser considerada uma das maiores poetisas acmeístas russas, distinguiu-se na prosa, com
destaque para memórias, peças autobiográficas e ensaios.
A sua obra-prima Requiem
(1935-1940) é um poema trágico sobre o terror do Estalinismo. Destaque, também,
para os poemas Cleópatra e Coragem.
Durante muitos anos, as suas produções literárias não foram
publicadas, por deliberação da censura política soviética.
Palavras de Anna Akhmatova:
“Era um tempo em que só os mortos sorriam - felizes em
sua paz.”
Dedicatória
Diante
dessa dor curvam-se os montes,
O Grande rio já não corre,
Mas são fortes as trancas das prisões,
E atrás delas os "covis de forçados"
E uma angústia mortal.
O Grande rio já não corre,
Mas são fortes as trancas das prisões,
E atrás delas os "covis de forçados"
E uma angústia mortal.
Para
quem sopra a brisa leve,
A quem enternece o pôr-do-sol —
Não sabemos, por toda parte iguais,
Ouvimos só o hediondo estridor das chaves
E os passos pesados dos soldados.
A quem enternece o pôr-do-sol —
Não sabemos, por toda parte iguais,
Ouvimos só o hediondo estridor das chaves
E os passos pesados dos soldados.
Levantávamos
como para a missa da manhã,
Íamos pela cidade embrutecida,
Nos víamos lá, mais exânimes que os mortos,
O sol mais baixo e mais nublado o Nieva,
Mas a esperança ainda cantando ao longe.
A sentença... E as lágrimas irrompem,
De todos já afastada,
Íamos pela cidade embrutecida,
Nos víamos lá, mais exânimes que os mortos,
O sol mais baixo e mais nublado o Nieva,
Mas a esperança ainda cantando ao longe.
A sentença... E as lágrimas irrompem,
De todos já afastada,
A vida
arrancada do coração aos gritos.
Derrubada de costas, brutalmente,
Mas ela anda... Cambaleia... Só...
Onde estão as amigas prisioneiras
Dos meus dois anos de inferno?
O que elas vêem na tormenta siberiana,
O que tremeluz no halo da lua?
A elas, meu adeus de despedida.
Derrubada de costas, brutalmente,
Mas ela anda... Cambaleia... Só...
Onde estão as amigas prisioneiras
Dos meus dois anos de inferno?
O que elas vêem na tormenta siberiana,
O que tremeluz no halo da lua?
A elas, meu adeus de despedida.
Anna
Akhmatova
Imagem:
pintura de Tomasz Alen Kopera (Polónia, 1976)
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