Aguinaldo Fonseca
(Mindelo, Cabo Verde, 1922 - Lisboa,
Portugal, 2014).
Publicou um único livro de
poesia, intitulado Linha do Horizonte.
Palavras de Aguinaldo Fonseca:
“Para
mim, poesia é vida”
Mãe Negra
A mãe negra
embala o filho.
Canta a remota
canção
Que seus avós
já cantavam
Em noites sem
madrugada.
Canta, canta
para o céu
Tão estrelado e
festivo.
É para o céu
que ela canta,
Que o céu
Às vezes também
é negro.
No céu
Tão estrelado e
festivo
Não há branco,
não há preto,
Não há vermelho
e amarelo.
— Todos são
anjos e santos
Guardados por
mãos divinas.
A mãe negra não
tem casa
Nem carinhos de
ninguém…
A mãe negra é
triste, triste,
E tem um filho
nos braços…
Mas olha o céu
estrelado
E de repente
sorri.
Parece-lhe que
cada estrela
É uma mão
acenando
Com simpatia e
saudade…
Aguinaldo Fonseca
Imagem:
pintura de Elisha Ongere (Quénia, África, 1963)
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