sexta-feira, 30 de outubro de 2015

DELMIRA AGUSTINI - O Intruso

 
 
 
 
 
 

Delmira Agustini (Montevidéu, Uruguai, 1886 – 1914).

Iniciou a sua carreira literária em 1902, apenas com 16 anos de idade.

Simultaneamente ingénua, melancólica e enigmática, foi uma das vozes de vanguarda da poesia feminina hispano-americana.       

Na sua obra, há um lirismo de tipo sensual e um profundo sentido dramático da vida.

 
 
Palavras de Delmira Agustini:
“Para morrer como a lei impõe, o mar não quer diques. Quer praias!”

 
 
                       O Intruso

 
Amor, naquela noite trágica e soluçante
Cantou tua chave de ouro em minha fechadura;
E logo, a porta aberta sobre a sombra arrepiante,
Te vi como uma mancha de luz e de brancura.

Tudo me iluminaram teus olhos de diamante;
Beberam-me na taça teus lábios de frescura,
Na almofada pousaste-me a cabeça fragrante;
Amei-te o atrevimento e adorei-te a loucura.

E hoje rio se ris e canto se tu cantas;
Se dormes, durmo como um cão a tuas plantas!
Na própria sombra levo a tua recendente

Primavera; e, se a mão tocas na fechadura,
Tremo e bendigo a noite que - soluçante e escura -
Floriu na minha vida tua boca amanhecente. 

 
Delmira Agustini
Tradução: Anderson Braga Horta

 

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