Jonathan Swift (Dublin, Irlanda, 1667 – 1745).
Foi poeta e escritor satírico.
Ingressou
no clero anglicano e tomou parte em lutas religiosas, políticas e literárias.
A sua obra é vastíssima, entre
textos de intervenção, sátiras, ficção e poemas.
Notabilizou-se,
contudo, com sua obra-prima, As
Viagens de Gulliver, publicada em 1726, sátira implacável não só da
sociedade inglesa do seu tempo, mas de todo o mundo civilizado. É uma história
intemporal da mesquinhez da política, das pessoas e dos jogos de poder.
Palavras de Jonathan
Swift:
“Quando
um verdadeiro génio se mostra ao mundo reconhece-se logo da seguinte maneira:
todos os idiotas se juntam e conspiram contra ele.”
Uma
modesta proposta –
texto satírico (excertos):
Para impedir que os filhos das pessoas pobres da Irlanda sejam um fardo
para os seus progenitores ou para o país, e para torná-los proveitosos ao
interesse público.
É
motivo de tristeza, para aqueles que andam por esta grande cidade, ou viajam
pelo país, verem as ruas, as estradas ou as portas dos barracos apinhados de
mendigos do sexo feminino, seguidos por três, quatro ou seis crianças, todas
esfarrapadas, a importunar os passantes com solicitações de donativos.
Essas mães,
em vez de poderem trabalhar pelo seu honesto sustento, são forçadas a
perambular o tempo todo atrás de esmolas a fim sustentar os seus pequenos
desvalidos, os quais, à medida que crescem, se tornam ladrões, por falta de
trabalho, ou deixam sua terra natal para lutar pelo Pretendente na Espanha ou
se vendem para ir às Barbados.
Creio
que todos os partidos concordam em que esse número prodigioso de crianças nos
braços, ou nas costas, ou mesmo nos calcanhares de suas mães, e frequentemente
nos de seus pais, é no presente estado deplorável do reino um grande transtorno
adicional; de modo que quem quer que encontre um método razoável, barato e
fácil de transformar tais crianças em membros saudáveis e úteis da comunidade
não mereceria menos do público do que uma estátua erguida em sua homenagem,
aclamando-o como benfeitor da nação.
(…) Agora, pois, proporei humildemente minhas próprias ideias, as quais
acredito não serão suscetíveis da menor objeção.
Um americano muito experiente, conhecido meu, me disse em Londres que uma
criança nova, saudável e bem nutrida é, com a idade de um ano, um petisco
bastante delicioso e salutar, seja servido ensopado, assado, grelhado ou
cozido; e não tenho dúvida de que poderá ser preparada como um fricassê ou um
ragu.
(…)
Asseguro, com toda a sinceridade do coração, que
não tenho o menor interesse pessoal em empreender a promoção desta obra
necessária, não me movendo também nenhum outro motivo que o bem público de meu
país, no desenvolvimento do comércio, na manutenção das crianças, no desencargo
dos pobres, e no proporcionar alguma satisfação aos mais ricos. Não tenho
filhos com os quais pudesse angariar nenhum tostão, sendo que o mais velho dos
meus já fez nove anos, e minha esposa passou da idade de gerar.
Jonathan Swift
Imagem: pintura de Henri Matisse
(França, 1869 – 1954)
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