domingo, 31 de janeiro de 2016

O TÁXI DO SR. AUGUSTO MACEDO – Táxi Lisboa

 
 
 
 

Adquirida nova pelo Sr. Augusto Macedo, esta viatura foi presença constante nas ruas da cidade de Lisboa durante cerca de 60 anos, constituindo uma incontornável memória para quem viveu a cidade durante este período, e um indelével registo iconográfico da sua história contemporânea.

O Sr. Augusto Macedo e o Oldsmobile F-28 de 1928 permaneceram em actividade até 1994, no dia em que “Táxi Lisboa”, o documentário que lhe valeu a atribuição “Melhor actor masculino” no festival de Cinema de Pescara, é lançado nos cinemas.

Tinha 94 anos.

O Táxi Lisboa é uma das mais emblemáticas e valiosas viaturas do património da cidade de Lisboa.

Para além de referenciada como viatura utilizada no casamento de várias gerações de Lisboetas e muito utilizada por turistas, constituindo uma prezada memória da sua passagem pela cidade possui no seu curriculum  variadíssimas aparições em produções de cinema, fotografia e moda.

O seu proprietário percorreu mais de dois milhões de quilómetros, sem um único acidente.

 

 

Fonte: Viaturas Históricas – Município de Lisboa

Imagem: fotografia de Mónica R.

 

 

 
 

sábado, 30 de janeiro de 2016

TOMÁS ALCAIDE – Um Cantor no Palco e na Vida

 
 
 
 
 
 

Tomás Alcaide (Estremoz, Portugal, 1901 – Lisboa, Portugal, 1967).

Em pequenas tertúlias de carácter íntimo, revela a sua voz de belo timbre e a conselho de alguns amigos e de alguns críticos, decide dedicar-se à carreira lírica. Neste sentido inicia as suas lições de canto, primeiro com o professor italiano Alberto Sarti e posteriormente com o barítono D. Francisco de Sousa Coutinho, famoso sobretudo pelo seu papel em “Falstaff”.

Após a sua primeira apresentação pública realizada no Teatro Bernardim Ribeiro em Estremoz, Alcaide prossegue os estudos vocais com a célebre meio-soprano italiana de finais do século XIX, Eugenia Mantelli, que lhe proporciona não só uma sólida preparação musical como também o inicia em alguns dos papéis mais apropriados para a sua voz, como o de Rodolfo, Fausto ou Duque de Mântua. (…)

Aos 24 anos, mais precisamente a 19 de Abril de 1925, Tomás Alcaide decide partir para Milão para se aperfeiçoar ainda mais na sua arte. Nesta cidade vai estudar durante algum tempo com o Maestro Fernando Ferrara que depois de ter apurado metodicamente a técnica vocal do seu brilhante aluno o direcciona correctamente para o reportório comummente conhecido como “di grazia”, o que melhor se adaptava à sua voz. Neste sentido aconselha-o a estudar os papéis de Almaviva, Elvino, Ernesto, Nadir, De Grieuz e Werther.

No final desse ano de 1925, mais precisamente a 5 de Dezembro, Alcaide estreia-se no Teatro Carcano de Milão, aí interpretando o papel de Maestro Wilhelm, personagem da ópera “Mignon” de Ambroise Thomas.

Dava-se assim início a uma brilhante carreira internacional, pois após a sua estreia no Teatro Carcano, Alcaide vai trabalhar ininterruptamente em quase todos os teatros Italianos. A sua enorme fama leva-o por exemplo, em 1930, a ser o tenor escolhido para a estreia mundial das óperas contemporâneas “As Preciosas Ridículas” de Felice Lattuada e “Il Re” de Umberto Giordano, ambas estreadas a 26 de Janeiro desse ano no Teatro Reale de Roma. Após o sucesso destas récitas Alcaide apresenta-se no Scala de Milão, onde é ouvido não só n’ “As Preciosas Ridículas” como também em “Il Gobbo del Califfo” de Franco Casavola e “Madonna Imperia” de Franco Alfano. (…)

Entretanto, na década de 30 do século XX, quando o seu talento de grande tenor era já reconhecido por toda a Europa, Alcaide estreia-se no mundo da zarzuela e da ópera vienense. Em Montecarlo interpreta em 1934 “Doña Francisquita” do espanhol Amadeo Vives e em Boulogne sur mer, Bruxelas e Paris interpreta em 1937 a opereta “O País dos Sorrisos” de Franz Lehár, um sucesso estrondoso. Ficarão famosas as suas interpretações de personagens libertinas, fazendo uso da sua voz de grande pureza de timbre.

No entanto com o início da 2ª Guerra Mundial, Tomaz Alcaide vê-se obrigado a partir para a América do Sul. O Teatro Colón em Buenos Aires, recebe-o de braços abertos, assim como a Ópera do Rio de Janeiro e o Teatro Municipal de São Paulo. É aliás no Brasil que Alcaide conhece a sua 2ª mulher, Asta-Rose Alcaide.

Apreciado pelos seus incontestáveis dotes naturais – os seus “pianíssimos” eram levados ao extremo – e pelo seu virtuosismo técnico e escola vocal, Tomás Alcaide apresentou-se durante mais de duas décadas nos mais importantes teatros líricos da Europa e América. Entre eles contam-se o Scala de Milão, o San Carlo de Nápoles, o Real de Roma, a Ópera de Paris, a Ópera de Viena, o Teatro Real de La Monnaie em Bruxelas, o Teatro Nacional de S. Carlos, o Teatro Colón em Buenos Aires, a Ópera do Rio de Janeiro e o Teatro Municipal de São Paulo, palcos onde interpretou um vasto reportório de onde se destacam as óperas “La Favorita”, “Rigoletto”, “Cavalleria Rusticana”, “Manon”, “Romeu e Julieta”, “Os Pescadores de Pérolas” e “Werther”. (…)

Na última década de vida, Alcaide realizou diversas conferências, publicou a sua autobiografia intitulada Um Cantor no Palco e na Vida, colaborou em programas de rádio ao lado de João de Freitas Branco e de Maria Helena de Freitas e dirigiu a Escola de Canto do Teatro da Trindade acumulando aqui os cargos de mestre de canto e de encenador da Companhia Portuguesa de Ópera

 

Fonte: Biografia de Tomás Alcaide de autoria do pianista e maestro António Ferreira (excertos).

 

 
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Palavras de Tomás Alcaide:

“A noite de estreia no “Teatro Scala” de Milão foi para mim, como é de imaginar, uma grande noite.”

 

 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

ANA MARIA BOTELHO - As portas do poeta

 
 
 
 
 

Ana Maria Botelho (Lisboa, Portugal, 1936).
Pintora, poetisa e escritora.
Após os primeiros conhecimentos de desenho livre e geométrico sob a orientação do Prof. Castilho, no Colégio das Dominicanas do Ramalhão, em Sintra (1949) continua os seus estudos em Paris (1950) no Instituto de Mortefontaine, onde sofre a atracção dos modernistas e sobretudo dos surrealistas.
Em 1952 regressa a Lisboa e frequenta os estúdios dos mestres João Reis e Eduardo Malta, aperfeiçoando o desenho e a técnica do retrato. Cinco anos depois, volta ao estrangeiro (Itália) e participa nalgumas exposições colectivas de juventude.
Até 1963, a sua actividade artística divide-se pelo triângulo Lisboa -Roma – Paris. Permanece mais acentuadamente nesta última cidade, tomando contacto com a sua vida literária e artística. Conhece, então, Paul Claudel e Albert Camus, relacionando-se ainda com outros nomes, e frequenta o estúdio de Jean Beauvoir.
Na Itália, estuda com o escultor Giacometti e lê os seus primeiros poemas a Mário Ungaretti.  Em 1964, com Carlos Borges de Castro, inicia grande produção artística, com mostras regulares e assíduas em galerias oficiais e particulares.
A sua primeira exposição individual realiza-se no SNI, e a segunda no Casino do Estoril.
Seguidamente, efectiva viagens de estudo aos Estados Unidos e Brasil, onde colabora como cronista e poetisa em diversos jornais brasileiros.
É a partir de 1968 que aparecem, em livro, os seus primeiros poemas com o título Varanda sem Casa, editado no Rio de Janeiro, e, em 1972, surgem outros poemas, em livro, Céu de Linho. É também nesse mesmo ano que dá a sua colaboração plástica à Exposição do IV Centenário da Publicação de Os Lusíadas, ilustra o livro de seu pai, O Encoberto dos Jerónimos, e executa doze gravuras a cores com originais adquiridos para a colecção do Museu da Marinha, em Lisboa.
Em 17 de Maio de 1973, inaugura a Galeria Centro, sua propriedade, com uma exposição, sob a designação genérica de O Vermelho, O Real e o Poético.
Os seus quadros fazem parte do acervo de vários museus de Portugal, Holanda, França, Dinamarca, Itália, Estados Unidos, Austrália, Vaticano, etc.

Em 2009, foi editado o livro, Ana Maria Botelho – Vida e Obra.


Fonte: Dicionário de Mulheres Célebres (excertos e adaptação)

 

 
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No dia 27 de Janeiro de 2016, dia do seu aniversário, Ana Maria Botelho foi homenageada com o lançamento do seu livro de poemas, Passos da Minha Noite.

 
Palavras de Ana Maria Botelho:

“Estou em posição de descoberta. O rosto levantado para o fim do risco e no fim do risco a porta aberta.”

 

 As portas do poeta

 

O lume aceso
Da lareira alentejana
É também uma porta,
A voz da Florbela
É também uma porta,

A voz de Camões
É uma enorme porta

A Catedral de Milão
É uma porta
Que os turistas passam
Mas não sabem.

Nós poetas temos o conhecimento
Das portas
E sabemos que algumas
É só empurra-las,
Outras – abrem-se a pé de cabra
Outras não vale a pena bater à porta

Mas porta, Porta-Madeira,
Porta de fechar
E abrir casas,
Porta, assim, concreta
Palavra do dicionário,
Como essa da casa onde tu e eu vivemos provisoriamente

Essa porta é uma porta na cara.

Mas não penses que me importa!
Que me importa a porta-porta,
Essa coisa rectangular?!
- se tenho todas as tuas janelas.

 

Ana Maria Botelho, in “Passos da Minha Noite”
 
 
           Pintura de Ana Maria Botelho       
Homenagem a Itzhak Perlman (violinista israelita)
(óleo sobre madeira)
 
 

 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

VLADIMIR MAYAKOVSKY - E então, que quereis?

 
 
 
 
 
Vladimir Mayakovsky (Baghdati, Império Russo, 1893 – Moscovo, Rússia, 1930).

Poeta e dramaturgo, considerado um dos maiores influentes autores do século XX, foi um dos fundadores do movimento futurista da Rússia.
Publicou, em 1915, Nuvem de Calças, a sua primeira grande obra.

Foi o principal poeta da revolução russa.

 
 Palavras de Vladimir Mayakovsky:
A poesia é uma forma de produção. Dificílima, complexíssima, porém produção.”
 
 
E então, que quereis ?
 
 
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.


Tradução: E. Carrera Guerra
Imagem:pintura de Marcel Basler (França, 1917).

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

CASSIANO BRANCO – Arquitecto

 
 
 
 
 
 
Cassiano Branco (Lisboa, Portugal, 1897 – 1970).

 
Foi uma das referências fundamentais da arquitectura modernista em Portugal que não se limitou a projectar na capital, deixou a sua marca por todo o território nacional. (…)

Fez parte de uma geração que ficou para a história e foi para muitos “o melhor arquitecto deles todos”. (…)

Conheceu os maiores nomes da sua área profissional. Nasceram todos ao mesmo tempo e são do mesmo curso. Eram realmente poucos, apenas cinco: Pardal Monteiro, Cristino da Silva, Jorge Segurado, Carlos Ramos e Cassiano Branco.

Antes de dar por terminado o curso, foi viajar. Ao contrário da geração de arquitectos da sua época, Cassiano conclui o curso de arquitectura depois de ter ido à Bélgica, Holanda, Paris e Londres.
Estas viagens foram determinantes na forma como via a arquitectura no espaço urbano. Enquadrou a sua arquitectura na nossa atmosfera, no nosso ambiente, na nossa cultura, na nossa relação com o espaço e, inclusivamente, na nossa relação com o território.

Diplomado aos 29 anos, destacou-se logo no início da carreira com os planos para o Éden Teatro, que tinha a maior sala de teatro (e depois de cinema) da cidade. (…) Tornou-se numa das escassas grandes obras da arquitectura moderna portuguesa.

A “art déco” acompanhou-o durante grande parte da sua produção. Projectou um bairro de moradias de luxo, construídas em Lisboa, na Av. António José de Almeida; o Café Cristal, na Av. da Liberdade, etc.

Ainda na década de 40, Cassiano e outros arquitectos da sua geração - como Cristino da Silva e Pardal Monteiro - projectaram prédios de baixo rendimento na zona do Areeiro. Esta zona marcava uma situação urbana que era a da nova cidade salazarista, fruto da economia colonialista. Ali pode considerar-se terminado o modernismo arquitectural dos anos 20.

São dele o Café Império, em Lisboa, o Hotel Britânia, também na capital, a esplanada do Café Palladium, no Porto, e o estudo urbanístico para a Costa da Caparica.
Outras das suas obras: Portugal dos Pequeninos, Coliseu do Porto, Hotel Vitória.

 

Fonte:  Arqutectura Nacional

 
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Palavras de Cassiano Branco: (há 80 anos!)

 
“A defesa anti-sísmica partilha da defesa maior do património nacional, que para nós, habitantes de Lisboa, significa, além dos tesouros que ao estado compete guardar e proteger, os bens que de mais perto nos tocam, os nossos haveres e as nossas vidas. Proteger tais bens contra toda a sorte de calamidades – e um terramoto como o de 1975 não é menos calamitoso que uma guerra, por exemplo – é um dos atributos do governo: corresponde, aliás, a um princípio moral defendido por todas as sabedorias e por todas as religiões, pois que a vida humana, pela actividade espiritual que representa, é objecto inestimável e faz parte integrante dessa obra imensa e formidável da arquitectura que se chama Universo.”

 

 

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

ANNA MASCOLO - Ballerina, Coreógrafa e Pedagoga

 
 
 
 
 
 

Anna Mascolo (Nápoles, Itália, 1930).

 
Na sequência das missões profissionais do pai vive em várias cidades italianas até chegar a Zara (Dalmácia italiana), na qual permanece até 1939. Nesse ano parte para Roma e em Agosto de 1940, já após a entrada de Itália em guerra, chega a Lisboa e continua os seus estudos habituais na Escola Italiana (actual Instituto Italiano de Cultura em Lisboa).
Do seu programa didáctico fazia parte o Ensino Artístico. A professora Ruth Asvin que ministrava a Dança, convida-a a potenciar essa disciplina na sua Escola Privada. Contava então 11 anos. Alguns meses mais tarde o pai, que não aprova a sua carreira na Dança, interrompe os seus estudos.
Aos 13 anos, sem o conhecimento dos pais, matricula-se no Conservatório Nacional (Secção de Dança). Em 1944, a convite da Directora do recém-constituído Círculo de Iniciação Coreográfica, Margarida de Abreu, integra este grupo no qual veio a ter acção decisiva na sua implantação e desenvolvimento. Em 1947, diploma-se no Conservatório e, no ano seguinte, recebe o «Prémio Nova Geração».
Depois da Segunda Guerra Mundial, actuam em Portugal as melhores companhias de bailado do mundo que trazem artistas tais como Anita Bronzi, Nina Verchinina, René Bon, Serge Lifar, Christiane Vaussard, Paul Szilard, George Balanchine, entre outros (com os quais tem a oportunidade de estudar em Lisboa).
Determinada a dar início a uma carreira profissional na tradição da Grande Dança académico-clássica, para a qual é fortemente encorajada pelas supracitadas personalidades, parte, de sua iniciativa, por períodos de dois a três meses, desde 1948 a 1952, para Paris e Nápoles para estudar com Olga Preobrajenska, R. Rouzanne, Lubov Egorova e Bianca Gallizia. (…)
Ingressa, em 1953, na companhia “Le Grand Ballet du Marquis de Cuevas” . Nesta Companhia, o rigor e a exigência profissional, na sua plenitude, bem como a criatividade e excepcional maturidade artística de mestres como Bronislava Nijinska, Felia Doubrovska, Leonide Massine e colegas como Rosella Hightower, os irmãos Golovine, Nina Vyroubova e George Skibine comprovam que a Dança Académico-Clássica, melhor designada a Grande Dança Teatral, atinge o estatuto de Arte Maior. (…)
Determinada em dar uma sólida preparação, até então inexistente, de nível internacional aos bailarinos profissionais do incipiente Bailado Português, funda, em 1958, o Estúdio-Escola de Dança Clássica de Anna Mascolo (EEDC-AM), em Lisboa, o qual teve a seguinte premissa:
“Tenho um Ideal a alcançar que transcende o mero ensino: o de criar nos meus alunos uma dignidade humana e artística.” (…)
Em 1964 entra na recém fundada “Academia de Música de Santa Cecília” como Orientadora e Professora, na qual permanece até 1971, data da extinção da “secção de Dança”. No mesmo ano torna-se Directora Artística do “Grupo Experimental de ballet” da Associação do Centro Português de Bailado. (…)
Em 1968, funda, com os alunos do seu Estúdio-Escola, o “Grupo de Bailado de Anna Mascolo” (GBAM) com a finalidade de enquadrar os Alunos-Bailarinos na estrutura de uma pequena Companhia de Bailado e dimensionar a nível profissional a sua futura actividade, nomeadamente a preparação de reportório e a sua apresentação em temporadas regulares de Bailado e Ópera. Tal acontece com a Companhia Portuguesa de Ópera do Teatro da Trindade, fundada pelo seu director Dr. José Serra Formigal. (…)
Em 1978, é nomeada membro da comissão da reestruturação do Ensino Artístico em Portugal, pelo Ministério da Educação e Cultura/MEC. (….)
O Conselho Internacional da Dança/CIDD - UNESCO, em 1983, nomeia Anna Mascolo, sua Delegada Nacional, com a incumbência de fundar e presidir (eleita em Assembleia Geral) o Conselho Português da Dança. (…)
Através das “master classes”, conferências, artigos de jornais, entrevistas e críticas de bailado, tem comprovado a diversidade do seu conhecimento profissional, bem como o domínio de várias línguas
 
Fonte: Estúdio- Escola de Dança Clássica de Anna Mascolo /EEDC-AM
 
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Anna Mascolo recebeu, em 2012, o doutoramento Honoris Causa na área da Dança, atribuído pela Universidade Técnica de Lisboa. É assim distinguido o seu percurso artístico, académico e de investigação, bem como o seu trabalho em prol da Dança como arte maior.
É a primeira vez em Portugal que o colégio de doutores confere este título a uma pessoa proveniente da área da Dança.
 
Palavras de Anna Mascolo:
"Ser bailarino é fantástico, mas é uma profissão de grande exigência física e psíquica. Estamos permanentemente em luta connosco e isso é terrível. A dança quer sempre mais e não reconhece outra coisa que não a própria dança. Nunca é condescendente."
 
 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

JOSÉ EMILIO PACHECO - Indesejável

 
 
 
 
 
 
 

José Emilio Pacheco (Cidade do México, México, 1939 – 2014).

Além de poeta, escritor, jornalista cultural e ensaísta, consagrou-se como brilhante tradutor, director e editor de diversas publicações culturais.

Membro da “Geração dos Cinquenta”, a sua poesia fala da beleza da vida quotidiana e do tempo.

Um dos seus poemas, Alta Traição, foi, é, será uma das maiores referências da cultura mexicana para compreender o seu país.

 
 
Palavras de José Emilio Pacheco:
"Em poesia, o que não é bom é desprezível"

 
    
     Indesejável

 
O guarda não me deixa entrar.

Já passei do limite de idade.

Provenho de um país que já não existe.

Meus documentos não estão em ordem.

Falta um carimbo.

Necessito outra assinatura.

Não falo o idioma.

Não tenho conta no banco.

Fui reprovado no exame de admissão.

Cancelaram minha vaga na grande fábrica.

Me desempregaram hoje e para sempre.

Careço inteiramente de influências.

Estou neste mundo há muito tempo.

E nossos amores dizem que já é hora

de calar-me e meter-me no lixo.

 

Tradução: António Miranda
Imagem: pintura de Kyffin Williams (Reino Unido, 1918 – 2006)

 

 

domingo, 24 de janeiro de 2016

PIROLITO: BATE QUE BATE

 
 
 
 
 
 

PIROLITO:BATE QUE BATE - Semanário de humor e caricatura, publicou-se no Porto a partir de 24 de Janeiro de 1931 e ter-se-á mantido até Janeiro de 1934.

O Pirolito era propriedade de Oliveira Valença (1897-1978) que assumia também o cargo de Editor; da direcção do jornal cuidavam Arnaldo Leite (1886-1968) e Carvalho Barbosa (1884-1936), aos quais se associava o caricaturista Cruz Caldas (1898-1975).

A equipa não era desconhecida do público do Porto, quer por via das artes do palco, quer da própria imprensa. (…)
A preponderância do humor literário sobre o gráfico será filha da ligação da equipa com o teatro (comédia e revista).

Folheando o jornal descobrem-se assinaturas de muitos outros autores, mas na sua maioria não passam de pseudónimos. No que toca às artes, importa registar a presença de TOM (1906-1990) e de Octávio Sérgio (1896-1965). Nas letras, pode dar-se por garantida a colaboração de Heitor Campos Monteiro (1899-1936, sob a máscara de «José d´artimanhas», que assinava a crónica “Um ar da minha graça”. (…)

A brejeirice que impregnava as páginas do Pirolito também era uma forma de aliciar o leitor de resistir ao ambiente opressivo que emanava da ditadura militar, instalada desde Maio de 1926. De qualquer forma, o regime ainda não estava consolidado, embora levassem avanço as forças mais conservadoras e antidemocráticas.

Embora nada adiantasse sobre a sua missão, o Pirolito fez questão de clarificar a sua «inclinação política»: «O “Pirolito” afirma categoricamente a sua simpatia pelos homens da vanguarda e da retaguarda. Democrático – integralista, bolchevista, filiado no Centro Católico, monárquico do 31 de Janeiro e bravo republicano do Mindelo, o nosso jornal, sendo das esquerdas e das direitas, confessa a sua predilecção pelo centro.»

A agitação revolucionária que marcou o ano português de 1931, teve fraca ressonância no jornal. Nem a censura o permitia. Mas as alusões mais genéricas à ditadura e ao empobrecimento do país fizeram o tema de muitas capas. A actualidade internacional também mereceu tratamento, particularmente a implantação da república em Espanha (Abril).

O humor literário teve a sua atenção centrada na sociedade e nos costumes: a liberdade e a autonomia da mulher, a moda, a informalidade das relações, os espectáculos, etc.

 

Fonte: Hemeroteca Municipal de Lisboa (excertos)


sábado, 23 de janeiro de 2016

BERNARDO SANTARENO - Desencontro

 
 




Bernardo Santareno (Santarém, Portugal, 1920 – Oeiras, Portugal, 1980).
 
Foi uma das mais sérias revelações do teatro português nos últimos decénios, cuja bela imaginação dialogal e cénica era inspirada na fraseologia e num misto de poesia, à mistura com superstições populares e em íntima comunhão humana com o erótico e o religioso.
Só em 1957 escreveu três peças dramáticas: A Promessa, O Bailarino e A Excomungada.

A última foi, Português, Escritor, 45 anos de Idade.

Diz-se que Bernardo Santareno se esforçou por criar um teatro de autenticidade, onde fosse tudo humano: as falas, as atitudes, a própria encenação.

 
Fonte: Literatura Portuguesa

 

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Palavras de Bernardo Santareno:
“O sobrenatural deve ser o florir, profundo e sereno, do natural.”
 
 
 
 
        Desencontro 
 
Jograis e trovadores,
vagabundos de todos os tempos,
são os meus parentes.
Não me peçam construções,
nem actos úteis de momento:
Eu sou um adolescente
e nunca serei adulto.
Não me peçam sobriedade,
nem gestos medidos, cinzentos:
Eu sou um arlequim
e visto-me de encarnado,
como as aves no firmamento
e como as flores na terra!
Não me exijam palavra certa,
nem honra... P'ra quê ilusões?
Nem santo, nem herói, nem mestre:
Eu sou um poeta
e só posso dar canções!
 
 
Imagem: pintura de Georges Rouault (Paris, França, 1871 – 1958)

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...