Bernardo Santareno (Santarém, Portugal, 1920 – Oeiras, Portugal, 1980).
Foi uma das mais sérias revelações do teatro português nos
últimos decénios, cuja bela imaginação dialogal e cénica era inspirada na
fraseologia e num misto de poesia, à mistura com superstições populares e em
íntima comunhão humana com o erótico e o religioso.
Só em 1957 escreveu três peças dramáticas: A Promessa, O Bailarino e A
Excomungada.A última foi, Português, Escritor, 45 anos de Idade.
Diz-se que Bernardo Santareno se esforçou por criar um teatro de
autenticidade, onde fosse tudo humano: as falas, as atitudes, a própria
encenação.
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“O sobrenatural deve ser o florir, profundo e sereno,
do natural.”
Desencontro
Jograis e trovadores,
vagabundos de todos os tempos,
são os meus parentes.
Não me peçam construções,
nem actos úteis de momento:
Eu sou um adolescente
e nunca serei adulto.
Não me peçam sobriedade,
nem gestos medidos, cinzentos:
Eu sou um arlequim
e visto-me de encarnado,
como as aves no firmamento
e como as flores na terra!
Não me exijam palavra certa,
nem honra... P'ra quê ilusões?
Nem santo, nem herói, nem mestre:
Eu sou um poeta
e só posso dar canções!
Imagem: pintura de Georges Rouault (Paris, França, 1871 – 1958)
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