Ana
Maria Botelho (Lisboa, Portugal,
1936).
Pintora, poetisa e escritora.
Após os primeiros conhecimentos
de desenho livre e geométrico sob a orientação do Prof. Castilho, no Colégio
das Dominicanas do Ramalhão, em Sintra (1949) continua os seus estudos em Paris
(1950) no Instituto de Mortefontaine, onde sofre a atracção dos modernistas e
sobretudo dos surrealistas.
Em 1952 regressa a Lisboa e
frequenta os estúdios dos mestres João Reis e Eduardo Malta, aperfeiçoando o
desenho e a técnica do retrato. Cinco anos depois, volta ao estrangeiro
(Itália) e participa nalgumas exposições colectivas de juventude.
Até 1963, a sua actividade
artística divide-se pelo triângulo Lisboa -Roma – Paris. Permanece mais
acentuadamente nesta última cidade, tomando contacto com a sua vida literária e
artística. Conhece, então, Paul Claudel e Albert Camus, relacionando-se ainda com
outros nomes, e frequenta o estúdio de Jean Beauvoir.
Na Itália, estuda com o
escultor Giacometti e lê os seus primeiros poemas a Mário Ungaretti. Em 1964, com Carlos Borges de Castro, inicia
grande produção artística, com mostras regulares e assíduas em galerias
oficiais e particulares.
A sua primeira exposição
individual realiza-se no SNI, e a segunda no Casino do Estoril.
Seguidamente, efectiva viagens
de estudo aos Estados Unidos e Brasil, onde colabora como cronista e poetisa em
diversos jornais brasileiros.
É a partir de 1968 que
aparecem, em livro, os seus primeiros poemas com o título Varanda sem Casa, editado no Rio de Janeiro, e, em 1972, surgem
outros poemas, em livro, Céu de Linho.
É também nesse mesmo ano que dá a sua colaboração plástica à Exposição do IV
Centenário da Publicação de Os Lusíadas, ilustra
o livro de seu pai, O Encoberto dos
Jerónimos, e executa doze gravuras a cores com originais adquiridos para a
colecção do Museu da Marinha, em Lisboa.
Em 17 de Maio de 1973, inaugura
a Galeria Centro, sua propriedade, com uma exposição, sob a designação genérica
de O Vermelho, O Real e o Poético.
Os seus quadros
fazem parte do acervo de vários museus de Portugal, Holanda, França, Dinamarca,
Itália, Estados Unidos, Austrália, Vaticano, etc.
Em 2009, foi editado o livro,
Ana Maria Botelho – Vida e Obra.
Fonte: Dicionário de Mulheres Célebres (excertos e adaptação)
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No dia
27 de Janeiro de 2016, dia do seu aniversário, Ana Maria Botelho foi homenageada
com o lançamento do seu livro de poemas, Passos da Minha Noite.
Palavras de Ana
Maria Botelho:
“Estou em posição de descoberta. O rosto
levantado para o fim do risco e no fim do risco a porta aberta.”
O lume
aceso
Da lareira alentejana
É também uma porta,
A voz da Florbela
É também uma porta,
Da lareira alentejana
É também uma porta,
A voz da Florbela
É também uma porta,
A voz
de Camões
É uma enorme porta
É uma enorme porta
A
Catedral de Milão
É uma porta
Que os turistas passam
Mas não sabem.
É uma porta
Que os turistas passam
Mas não sabem.
Nós
poetas temos o conhecimento
Das portas
E sabemos que algumas
É só empurra-las,
Outras – abrem-se a pé de cabra
Outras não vale a pena bater à porta
Das portas
E sabemos que algumas
É só empurra-las,
Outras – abrem-se a pé de cabra
Outras não vale a pena bater à porta
Mas
porta, Porta-Madeira,
Porta de fechar
E abrir casas,
Porta, assim, concreta
Palavra do dicionário,
Como essa da casa onde tu e eu vivemos provisoriamente
Porta de fechar
E abrir casas,
Porta, assim, concreta
Palavra do dicionário,
Como essa da casa onde tu e eu vivemos provisoriamente
Essa porta é uma porta na cara.
Mas
não penses que me importa!
Que me importa a porta-porta,
Essa coisa rectangular?!
- se tenho todas as tuas janelas.
Que me importa a porta-porta,
Essa coisa rectangular?!
- se tenho todas as tuas janelas.
Ana
Maria Botelho, in “Passos da Minha Noite”
Pintura de Ana Maria Botelho
Homenagem a Itzhak Perlman (violinista israelita)
(óleo sobre madeira)
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