quinta-feira, 30 de junho de 2016

MARIA CAMPINA – Pianista






Maria Campina nasceu em Loulé, Algarve, Portugal, em Janeiro de 1914.

Esta pianista, uma das mais talentosas da Europa de todos os tempos, concluiu o seu curso superior de piano do Conservatório Nacional, onde foi aluna de grandes mestres, entre os quais os extraordinários maestros portugueses Varela Cid e Luís de Freitas Branco, em 1935, com a classificação de 20 valores.

Enquanto frequentou aquele Conservatório, Maria Campina foi premiada com todos os galardões para os melhores alunos, incluindo o 1º prémio do Conservatório Nacional, nunca alcançado por qualquer outro aluno daquele estabelecimento de ensino.

Estreou-se em Lisboa naquele mesmo ano, num concerto na Casa do Algarve e fez questão de que o segundo fosse dado na sua terra natal, pouco tempo depois, no dia 8 de Agosto.

Todo o país fazia, então, questão em escutar aquela jovem e bonita pianista, louvando-lhe a capacidade interpretativa, a técnica e, especialmente, a sua extraordinária sensibilidade artística e emocional. (…)

A Emissora Nacional tinha dois serviços e a estação de “Lisboa 2”, com uma programação cultural e científica, emitia, diariamente, concertos de música clássica e ópera. Além disso, a estação tinha a sua própria Orquestra Sinfónica, de grande nível.

Maria Campina não tinha mãos a medir, quer em récitas individuais, quer integrada ou como solista da Orquestra Sinfónica, que, tal como a outra orquestra da estação oficial, a Orquestra Ligeira, percorria o país de lés a lés, numa descentralização que hoje deixaria surpreendido o mais insistente defensor da cultura descentralizada.

Mas a pianista não se limitava a dar vida às partituras dos grandes compositores, escrevia também para os jornais, proferia conferências, interessava-se pela vida cultural do país.

Em 1949, Maria Campina decidiu participar num concurso internacional na Áustria, pátria de grandes músicos e intérpretes.
No Mozarteum de Salzburgo, iria ombrear com quinze dos maiores pianistas mundiais do seu tempo. Interpretou obras de Mozart e de Johan Sebastian Bach e o júri, por unanimidade, o que raramente se voltou a repetir, declarou-a vencedora. É o reconhecimento internacional da grande dama do piano. Toda a Europa, América do Sul e África puderam, então, escutar a magia das suas interpretações.

Maria Campina criou, por essa altura, na Academia de Música do Funchal, a disciplina de Iniciação Musical, mostrando, deste modo, a sua sensibilidade pedagógica e visão para as carências educativas da escola, em Portugal.

Já em Lisboa, alguns anos mais tarde, em 1962, a pianista algarvia abraçava convictamente a ideia da criação de um conservatório na região do Algarve, que outros antes haviam lançado mas a que, à boa maneira das nossas cabeças pensantes, ninguém pusera em prática.

Durante dez anos, Maria Campina não esmoreceu, numa luta constante contra o imobilismo das instituições, a descrença dos poderes constituídos e a indiferença de quem tinha a obrigação de ser entusiasta e promotor.

Em 1972, Maria Campina pôde, finalmente, ainda em casa emprestada, receber os primeiros alunos do «seu» Conservatório Regional do Algarve.
Durante os doze anos que se seguiram, a pianista louletana pôde dar largas ao seu sonho, formando crianças e jovens algarvios.

Cheia de paciência, a grande mestra que o mundo apreciara como intérprete musical, consagrou, então, a sua vida à tarefa de ensinar solfejo, de desenhar claves de sol, de colocar as mãos sobre o teclado, tocar as escalas e acordes, ou a encontrar a posição da coluna quando se está sentado perante um teclado.

Galardoada, em 1979, com o grau de Comendador da Ordem de Instrução Pública, Maria Campina empenhava-se, então, com o seu marido, Pedro Ruivo, em conseguir apoios para a construção de uma escola de raiz, enquanto «fornadas» de jovens lhe iam passando pelas mãos delicadas.

Maria Campina faleceu em 27 de Fevereiro de 1984 e seria o seu marido quem veria, finalmente, concretizado o seu sonho: o excelente edifício que alberga hoje o Conservatório Regional Maria Campina, de que todos os algarvios se podem orgulhar.





Fonte: Conservatório Regional do Algarve (excertos)


quarta-feira, 29 de junho de 2016

MANUEL PAIVA BOLÉO – Filólogo, Linguista e Professor Catedrático.





Manuel Paiva Boléo (Idanha-a-Nova, Portugal, 1904 – Coimbra, Portugal, 1992).

Fez a instrução primária em Pedrógão Grande para onde a família se mudou, provavelmente em 1911.
Frequentou a Universidade de Coimbra, onde concluiu todas as cadeiras dos Cursos de Filologia Românica e Filologia Clássica.
A par das Letras frequentou e fez exames do curso de Direito, de que desiste no 3º ano, optando definitivamente pelas Letras.

Publicou, no "Correio de Coimbra" o seu primeiro artigo com o título: «Tuna e Orfeão Académico de Coimbra. A sua viagem a Espanha. Notas de um excursionista».

Católico convicto, publicou em "Estudos" o seu primeiro artigo de fundo sobre «A Igreja, a questão social e a democracia cristã». E ainda, como estudante, publicou, na "Biblos", o seu primeiro trabalho científico: «Génese do conceito de "tempo passado" e sua expressão nas línguas românicas.

Exerceu as funções de leitor de língua e literatura portuguesas na Universidade de Hamburgo.

Doutora-se brilhantemente com a dissertação «O Perfeito e o Pretérito em Português em confronto com as outras línguas românicas».

Em 1942 é lançado o seu pioneiro Inquérito Linguístico (ILB), conhecido como Inquérito Linguístico Boléo.

A convite da Universidade de Barcelona leccionou um curso intensivo de Filologia Portuguesa, integrado no curso de férias organizado por essa Universidade, em Ripoli (Itália).

Em 1946 visitou a Suíça, onde se encontrou com Karl Jaberg e Jacob Jud.

Em 1948 fez a primeira viagem ao Brasil, país com o qual manteve sempre profundas amizades culturais.

Pertenceu à Direcção do Instituto de Alta Cultura e proferiu conferências no «IV Congresso Internacional de Ciências Onomásticas» (Upsala) e no «VII Congresso Internacional de Linguistas» (Londres)

Participou em São Paulo no «II Colóquio de Estudos Luso-Brasileiros», onde apresentou uma comunicação sobre as relações entre o Continente, os Açores e o Brasil.

Foi convidado pelo Linguaphone Institute (Reino Unido) para preparar, em colaboração com Prof. Jacinto do Prado Coelho e Prof. Sousa Rebelo, uma nova edição do «Curso de Português».

Em 1971, participou «XIII Congresso Internacional de Linguística e Filologia Românicas», realizado no Canadá.

Em 1974 proferiu a sua última lição, jubilando-se.

Em1990 foi condecorado pelo Governo Português com a Grã Cruz da Ordem Militar de Sant´Iago da Espada.




Fonte: O Leme (excertos e adaptação)

terça-feira, 28 de junho de 2016

ÓPERA – O Anel do Nibelungo








O Anel do Nibelungo (1869 – 1876)


Quatro óperas separadas: O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e Crepúsculos dos Deuses formam este imponente ciclo de 15 horas, que Richard Wagner levou 25 anos a completar.

A história gira em torno de um anel que dá o poder supremo a quem o usa. 
No Ouro do Reno, Wotan, que governa os deuses, obriga um anão chamado Alberich, que forjou o anel, a entregar-lho.

A maldição que o anão vingativo lança sobre os portadores do anel é o tema das três óperas seguintes. A maldição é finalmente levantada pelo auto-sacrifício de Brunilde, a filha preferida de Wotan.




Fonte: Música, Canções e Dança.


segunda-feira, 27 de junho de 2016

ANTÓNIO MONTÊS – Museólogo e Publicista






António Montês (Caldas da Rainha, Portugal,1896 – Lisboa, 1967).

Grande museólogo e publicista, coube-lhe a honra de ter sido o fundador e primeiro director do Museu José Malhoa, um dos museus de maior interesse do país, sobretudo no que concerne a escultura, estatuária e louça das Caldas.

Estudou engenharia na Universidade de Coimbra. Foi Conservador dos Museus, no Museu Nacional de Arte Antiga. Foi director da Sociedade de Belas Artes, e no tempo de Sidónio Pais desempenhou o lugar de administrador dos concelhos de Óbidos e Caldas da Rainha.

Tendo com homem eminentemente inteligente que era, proferido diversas palestras e conferências através do país, socorrendo-se quase sempre da arte como tema.

Deve-se -lhe a iniciativa dos monumentos levantados nas Caldas da Rainha a Rafael Bordalo Pinheiro (escultura de Teixeira Lopes e plinto do arquitecto José Luís Monteiro, em 1926); José Malhoa (escultura de Costa Mota e plinto do arquitecto Paulino Montês, 1927); e ainda o monumento à rainha D.Leonor, a cuja comissão presidiu, erguido nas Caldas da Rainha em 1935 (escultura de Francisco Franco e base do arquitecto Cristino da Silva).

Como prémio pelo seu valor foi-lhe concedido o grau de oficial da Ordem Militar de Cristo e da Ordem da Instrução Pública, além do título de comendador da Deutsche Adler, da Alemanha.



Fonte: Dicionário da Literatura Portuguesa (excertos)
Imagem: Retrato de António Montês de autoria de José Malhoa.

domingo, 26 de junho de 2016

ÁLVARO CASSUTO – Compositor e maestro





Álvaro Cassuto (Porto, Portugal, 1938).

É actualmente um dos mais conceituados maestros portugueses. Estudou direcção de orquestra com os mestres Pedro de Freitas Branco, Herber von Karajan, Franco Ferrara e Obi Kapellmeister. 

Em 1969 foi o vencedor do galardão Koussevitzky, tido como o mais importante prémio internacional para jovens maestros. 

Entre 1970 e 1992 dirigiu a Orquestra Sinfónica da RDP, após o que fundou a Nova Filarmonia Portuguesa, em 1993. 

Entre 1993 e 1999 dirigiu ainda a Orquestra Sinfónica Portuguesa e actualmente é o maestro titular da Orquestra do Algarve. 

Álvaro Cassuto viveu 18 anos nos Estados Unidos, onde foi professor de música na Universidade da Califórnia e director musical da Rhode Island Philharmonic e da National Orchestra of New York, antes de regressar definitivamente a Portugal em 1986. 

Entre outras, o maestro Álvaro Cassuto conduziu a Orquestra Sinfónica de Jerusalém e a Ra’anana Symphonette de Israel. Durante toda a sua carreira, o maestro Álvaro Cassuto tem sido um dos principais divulgadores da obra do compositor português Joly Braga Santos, seu amigo e colega.



in Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa


*********************


Algumas das suas obras: Sonatina, In Memoriam Pedro de Freitas Branco, Canticum in Tenebris, Em nome da Paz (ópera em um acto), Regresso ao Futuro, As Quatro Estações para piano e orquestra, For Raanana.



Palavras de Álvaro Cassuto:
"Sou muito exigente, não tolero facilitismos."

sábado, 25 de junho de 2016

GERMANA TÂNGER – Declamadora e divulgadora de poesia





Germana Tânger (Lisboa, Portugal, 1920)

Termino esta série de evocações do ensino no Conservatório Nacional com Germana Tanger. Mas seja-me permitido uma vez mais referir a minha passagem directa (e não só familiar) no Conservatório, depois Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, onde fui aluno ouvinte nos anos 50 e professor de História do Teatro desde o início dos anos 80 até meados da primeira década dos anos 2000 – algo como cerca de um quarto de século!

E nas lembranças de professores, recordo então Maria Germana Tanger, cuja cadeira de Arte de Dizer não frequentei, mas acompanhei a sua acção didáctica e artística, designadamente através da realização de espectáculos, audições e provas de alunos que desde logo marcaram a sua entrada na Escola.

E não só: Maria Germana era já na altura um grande nome no profissionalismo teatral português, não como actriz mas como declamadora e divulgadora da poesia, em espectáculos e performances em que tantas e tantas vezes se apresentava sozinha, no palco, a declamar poesia. 

No Teatro da Trindade, por exemplo, uma placa assinala os 40 anos da apresentação da Ode Marítima, inesquecível “espectáculo” de uma só pessoa, ou melhor, de duas pessoas, Germana que declamou, e Fernando Pessoa, que escreveu…

A sua passagem pela Faculdade de Letras de Lisboa, nos anos 40, será aqui evocada mais pela cultura literária e pela iniciação profissional do que pelos estudos propriamente ditos. Mas serviu para lhe dar uma bagagem didáctica, que aprofundou em Paris com George Le Roy. E na sequência, foi titular de estudos camonianos na Sorbonne.

Germana Tanger marcou ainda os primeiros programas culturais da RTP e também da EN/RDP. E desenvolveu uma carreira internacional de declamadora, junto de entidades ligadas ao ensino da língua e da cultura portuguesa ou das comunidades portuguesas.

E nesse aspecto, muito lhe ficaram devendo os grandes nomes da literatura, a começar por Almada, Régio, Torga, Sophia, e, em geral, os poetas contemporâneos – mas também, os clássicos, que declamou, com um talento inesquecível, pelo mundo cultural capaz de entender e apreciar a poesia portuguesa.

Mas voltamos à Ode Marítima. Uma lápide, no Teatro da Trindade, recorda o espectáculo, 40 anos depois. Mas para quem assistiu, é inesquecível!


Fonte: Centro Nacional de Cultura – texto de Duarte Ivo Cruz

sexta-feira, 24 de junho de 2016

ALEKSANDR BLOK - Versos para uma Bela Dama




Aleksandr Blok (São Petersburgo, Rússia, 1880 – 1921).
Poeta, dramaturgo e ensaísta.

Viajou pela Alemanha, França e Itália. Aderiu, com entusiasmo, à Revolução de 1917, numa perspectiva místico-patriótica.
Cedo se revelou poeta original, apesar de ter aderido à corrente decadente do princípio do século XX, e de leves influências estrangeiras – de Verlaine, sobretudo.
É considerado o melhor representante do simbolismo russo.

Alguns dos seus livros: Versos para uma Bela Dama, Poemas da Bela Dama, Máscara de Neve, Os Doze, Ramsés.


Palavras de Aleksandr Blok:
“Infringir a tradição também é uma tradição.”


Versos para uma Bela Dama

No templo de naves escuras,
Celebro um rito singelo.
Aguardo a Dama Formosura
À luz dos velários vermelhos.
À sombra das colunas altas,
Vacilo aos portais que se abrem.
E me contempla iluminada
Ela, seu sonho, sua imagem.
Acostumei-me a esta casula
Da majestosa Esposa Eterna.
Pelas cornijas vão em fuga
Delírios, sorrisos e lendas.
São meigos os círios,Sagrada!
Doce o teu rosto resplendente!
Não ouço nem som, nem palavra,
Mas sei, Dileta – estás presente.


quinta-feira, 23 de junho de 2016

LUSITANIA – Revista de Estudos Portugueses





LUSITANIA, 1924 – 1927, revista de estudos portugueses, publicada de Janeiro de 1924 a Outubro de 1927, em Lisboa.

Foi dirigida por Carolina Michaellis de Vasconcelos, a redacção constituída por Afonso Lopes Vieira, António Sérgio, Reinaldo dos Santos, Viana da Mota, Agostinho de Campos, António Sardinha, Carlos Malheiro Dias, Faria de Vasconcelos, José Leite de Vasconcelos, Mário de Azevedo Gomes, Luciano Pereira, José de Figueiredo e Ricardo Jorge.
Foi secretariada por Afonso Lopes Vieira e por Reinaldo dos Santos, pertencendo a edição a Câmara Reis, sendo impressa nas oficinas gráficas da Biblioteca Nacional.

A LUSITANIA aspirou a ser um órgão da nossa cultura, posto ao serviço da reconstrução nacional. A revista conseguiu a colaboração mais erudita que havia na época nos vários domínios dos saberes, reuniu monárquicos e independentes.

Principais colaboradores: Jaime Cortesão, José Leite de Vasconcelos, Afonso Lopes Vieira, Afrânio Peixoto, Ricardo Jorge, Agostinho de Campos, Alberto d´Oliveira, António Baião, António Sardinha, António Sérgio, Carlos Malheiro Dias, Carolina Michaellis, Reinaldo dos Santos, Lúcio de Azevedo, Castelo Branco Chaves, Edgar Prestage, Henrique Lopes de Mendonça.



Fonte: Hemeroteca Municipal de Lisboa

quarta-feira, 22 de junho de 2016

BRANCA EDMÉE MARQUES – Cientista




Branca Edmée Marques (Lisboa, Portugal, 1899 – 1986)

Licenciou-se em Ciências Físico-químicas na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde iniciou a actividade docente em 1925. Na época, foi a única mulher entre professores e funcionários ligados ao ensino e investigação da Química na Universidade. Esta situação dificultou a sua nomeação como Professora Catedrática de Química, que aconteceu apenas em 1966.

Com uma bolsa atribuída pela Junta de Educação Nacional, trabalhou de 1931 a 1935 no Laboratório Curie do Instituto do Rádio em Paris sobre temas de radioactividade.

Nos primeiros três anos trabalhou sob orientação da própria Marie Curie e, no último ano, sob supervisão de André Debierne.

Em 1935 defendeu a sua tese de doutoramento, “Nouvelles recherches sur le fractionnement des sels de baryum radifère”.

Apesar de convidada para prosseguir a carreira de investigação no Instituto do Rádio, Branca Edmée regressou a Lisboa e retomou a sua actividade na Faculdade de Ciências, onde desenvolveu investigação no domínio da radioactividade.

Em 1936, criou o Laboratório de Radioquímica, que originou o Centro de Estudos de Radioquímica da Comissão de Estudos de Energia Nuclear, do qual foi directora até à sua jubilação. Neste Centro formaram-se vários cientistas e técnicos nas áreas da Química Nuclear.




Fonte: Museu da Ciência – Universidade de Coimbra

terça-feira, 21 de junho de 2016

NORBERTO LOPES - Jornalista - exemplo de objectividade e imparcialidade.





Norberto Lopes (Vimioso, Portugal, 1900 – Linda-a-Velha, Portugal, 1989).

Iniciou, em 1919, a sua carreira de jornalista no diário “O Século”.

Foi Chefe de Redacção do “Diário de Lisboa” desde a sua fundação. Aqui desenvolveu uma intensa actividade como cronista, repórter e jornalista. 
Exerceu também as funções de Director do mesmo jornal.

Em 1968, fundou e dirigiu o jornal “A Capital”. 

Efectuou reportagens brilhantes, como as consagradas à viagem aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral (1922), à Guerra Civil Espanhola (1936.1939), etc.

Durante o seu percurso de jornalista destacou-se no combate pela liberdade e pela abolição da censura.
Foi um dos vultos do jornalismo em Portugal, exemplo de objectividade e imparcialidade.

Foi sócio correspondente da Academia das Ciências.

Algumas das suas obras: A Filha de Lázaro, Cruzeiro do Sul, Mais vale andar no mar alto, Cruz de Brilhantes, Exilado de Bougie, Perfil de Teixeira Gomes, Emigrantes, A Crise do Livro em Portugal.


                         Palavras de Norberto Lopes:

“Ser D. Quixote no jornalismo é defender as causas justas, ainda que tenha de lutar contra moinhos de vento, o que tantas vezes acontece, ou de suportar a incompreensão e o desdém de Dulcineia.” 


segunda-feira, 20 de junho de 2016

HILDA HILST - Dez chamamentos ao amigo





Hilda Hilst (São Paulo, Brasil, 1930 – 2004)

Foi uma ficcionista, cronista, dramaturga e poeta brasileira, considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século 20.

Iniciou sua produção literária em São Paulo, com o livro de poemas Presságio (1950). Estreou na dramaturgia em 1967 e na ficção em 1970, com Fluxo Floema

Segundo o crítico Anatol Rosenfeld, “Hilda pertence ao raro grupo de artistas que conseguiu qualidade excepcional em todos os gêneros literários a que se propôs — poesia, teatro e ficção”. (…)

Hilda Hilst, dona de uma linguagem inovadora e abrangente, produziu mais de quarenta títulos entre poesia, teatro e ficção e escreveu por quase 50 anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios literários do Brasil.

Criadora de textos em que Atemporalidade, Real e Imaginário se fundem e os personagens mergulham no intenso questionamento dos significados, buscando compreensão e encontro do essencial, Hilda retrata sem cessar a frágil e surpreendente condição humana.

De temperamento transgressor, prezando a liberdade, dona de uma rara beleza e coragem, culta e poeta, Hilda teve uma personalidade marcante e sedutora que ia de encontro aos costumes tradicionais vigentes nos anos 1950, criando-se um folclore ao seu redor que, segundo alguns críticos, até chegou a ofuscar a importância de sua obra.


in “Instituto Hilda Hilst” (excertos)




******************



Palavras de Hilda Hilst:
“Livrai-me, Senhor, dos abestados e atoleimados.”



Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

domingo, 19 de junho de 2016

AURÉLIO DA PAZ DOS REIS – Pioneiro do cinema em Portugal






Aurélio da Paz dos Reis (Porto, Portugal, 1862 – 1931).

A 12 de Novembro de 1896, decorria no Theatro do Príncipe Real, no Porto, a apresentação ao público do Kinetographo Portuguez por Aurélio da Paz dos Reis e seu cunhado, Francisco de Magalhães Bastos Júnior. Na mesma sessão, uma Companhia de Zarzuela cantou Los Africanistas. Paz dos Reis era florista, fotógrafo amador e proprietário da Flora Portuense. Bastos Júnior era fotógrafo profissional, e co-proprietário da Photographia Central.

Entre os quadros exibidos - cinco dos quais estrangeiros - constam Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança (Rua de Santa Catarina, Porto), A Rua do Ouro (Lisboa), Marinha no Tejo, Saída de Dois Vapores. Além de Jogo do Pau (Santo Tirso), Chegada d’Um Comboio Americano a Cadouços (Foz do Douro), O Zé Pereira na Romaria de Sto. Tirso e A Feira de S. Bento.

Desde 8 de Setembro, Paz dos Reis e Bastos Júnior tinham (re)colhido outras «vistas movimentadas», com a expectativa de as mostrarem no Brasil: Manobras de Bombeiros, Cortejo Eclesiástico Saindo da Sé do Porto no Aniversário da Sagração do Eminentíssimo Cardeal D. Américo, Feira de Gado na Corujeira, Cinira Polonio Dizendo Uma Cançoneta ou Uma Salva de Artilharia na Serra do Pilar.

Paz dos Reis havia adquirido «aparelhos e imagens» em Paris. Pelo natural entusiasmo de experimentar a máquina de filmar, talvez ali tivesse operado Cenas da Vida Parisiense, destacado em A Voz Pública. Ou seria uma referência ao «material estrangeiro» depois citado no Jornal de Notícias? 
Entretanto, em exibição no Theatro de São Geraldo em Braga, o Kinetographo incluía Azenhas no Rio Ave, e no dia 28, no Theatro D. Affonso no Porto, aparecia No Jardim.(…)

Ao todo, Paz dos Reis e Bastos Júnior terão rodado várias dezenas de pequenos filmes, estando descriminados cerca de trinta e cinco. 
Cotejando os respectivos títulos com o visionamento dos resgatados, deduz-se que o envolvimento de Paz dos Reis - quanto às virtualidades do cinema - ultrapassou, de longe, a mera curiosidade do amador perante «a última maravilha do Século XIX», como se anunciava. É patente um estímulo de composição documental, e um testemunho embrionário em actualidade e reportagem, de cunho folclórico e etnográfico.(…)

Durante anos, a existência e caracterização do aparelho Kinetographo foi objecto de controvérsia, subsistindo ainda interrogações sobre os motivos que levaram Paz dos Reis a abandonar, bruscamente, o interesse - de início, tão intenso - pelo «assombroso Animatographo», que conheceu graças a Edwin Rousby.

Paz dos Reis encararia a invenção dos Lumière como um negócio, pleno de virtualidades. 

Tendo impressionado fitas em Lisboa, no Norte do País e no Porto, onde depois as exibiu, ou em Braga, tal constituiria para o nosso pioneiro uma ocorrência aleatória - por causa do atraso na viagem ao Brasil, onde Bastos Júnior já não o acompanhou. Aliás, nessa transição entre Dezembro de 1896 e Janeiro de 1897, todas as expectativas se cifraram num fracasso, tanto mais que a «novidade» já era conhecida além-Atlântico.

Houve, mesmo, problemas na apresentação. Relatava o jornal carioca O Paiz que «a trepidação incomoda o espectador», e a colónia portuguesa no Rio de Janeiro não correspondeu às «projecções luminosas em tamanho natural». Durante anos, presumiu-se que a desastrosa experiência levou Paz dos Reis a desistir. Outros defenderam que terá continuado a fazer filmes, embora sem os mostrar ao público. (…)



Fonte: Instituto Camões (excertos)


sábado, 18 de junho de 2016

CONFERÊNCIAS CIENTÍFICAS – O chapéu de chuva e o de sol






CONFERÊNCIAS CIENTÍFICAS – O chapéu de chuva e o de sol
(Para uso dos alunos dos liceus)


Podemos definir do modo seguinte o chapéu de chuva; é o chapéu de sol, quando o tempo está chuvoso. Vice-versa; chapéu de sol é o chapéu de chuva quando o tempo está de sol.
Conhecido assim o objecto de que me vou ocupar, passarei a descrever aos meus pequenos e inteligentes ouvintes a sua origem, importância e tudo o mais que convém saber.

O chapéu de chuva, antes de ser o que é, foi bengala simplesmente, cuja existência, como se sabe remonta à mais apagada antiguidade, pois foi primeiro usada pelo nosso pai comum, o chimpanzé, ou o homem dos bosques, que a ela se encostava por ser fraco das pernas.

De posse de tal auxiliar, num dia em que chovia a potes, o homem reparou que a bengala de nada lhe servia contra as cordas de água que o açoitavam. Tirou um lenço da algibeira, pô-lo na cabeça, imaginando que assim a livraria da molha, mas em breve se convenceu da ineficácia do remédio. Desesperado, agarrou no lenço e, para não encharcar a algibeira, em vez de o meter ali pendurou-o na ponta da bengala.

- Cá está o que me vai livrar da chuva! – exclamou logo, atravessando-lhe o cérebro um raio de génio.

Inventado assim o chapéu de chuva, o de sol seguiu-se-lhe sem esforço, repetida a experiência feita com o lenço.

É claro que, com o andar do tempo se notou que um lenço não tinha o tamanho suficiente para defender o individuo e, ainda lá mais para diante, se reconheceu que um pedaço de pano a bambolear na ponta de um pau só muito imperfeitamente servia de resguardo, daí a invenção das varetas.

Quanto à importância do chapéu de chuva, basta que nos lembremos que foi ele, por assim dizer, o ceptro do primeiro presidente que teve a República Portuguesa. Mas, ainda há mais: o Viático, quando saía à rua, era sempre resguardado pela umbela, chovesse ou não, estivesse sol ou não estivesse. 

E encarando esse objecto sob o aspecto comercial, digam-me: como poderiam fazer negócio as lojas de chapéus de chuva se os não houvesse? Esses pequenos galegos que por aí percorrem a gritar «conxerta tchapéus de sol» como poderiam concertá-los se eles não existissem?

Agora, duas palavras sobre o mais que convém saber neste assunto. 

Quando forem a um teatro, a qualquer sítio onde concorra muita gente e tenham que deixar o guarda chuva no bengaleiro, tenham mil cautelas quando o forem buscar, porque a troca é facílima: se lhe derem outro não o aceitem se for inferior ao seu ou pelo mau estado ou porque seja de fazendo pior.

Aconselho a que, quando andem pela rua com o guarda chuva fechado, debaixo do braço e a ponteira para a frente, nunca a metam pelo olho de quem vier em sentido contrário, sem que em seguida peçam desculpa, para não passarem por mal educados. 

Se o levarem aberto e junto dos meninos passar outra pessoa também de guarda chuva aberto façam o possível por que sejam as pontas das varetas do seu que rasguem a fazenda do parceiro e não as de este que rasguem os dos meninos.

E até para a semana; porque é tarde e estou com muita pressa de ir ali ao teatro República ver o Ferreira a fim de verificar se ele seria capaz de fazer o carroceiro da revista do Éden. Estou que não.

                                                                                                          
        Bonaparte                                                         
  
 (Aluno do Liceu Camões)


in “Século Cómico” de 1916, suplemento humorístico do jornal “O Século”.


sexta-feira, 17 de junho de 2016

ANTÓNIO MARIA EUSÉBIO, “O Calafate”






António Maria Eusébio, poeta popular, cantador e improvisador, nasceu e morreu em Setúbal (1819-1911). 
Exerceu na sua terra natal a profissão de calafate, ficando conhecido por Cantador de Setúbal, Eusébio Calafate ou simplesmente Calafate.

Não sabia ler, mas improvisava com a maior facilidade as tradicionais décimas a mote, muitas das quais ele próprio cantou durante a mocidade acompanhando-se com guizos nos pulsos. Quando a idade o impediu de continuar a trabalhar, os amigos fizeram publicar os seus versos em folhetos, vendidos em Setúbal, Palmela, Azeitão, Alcácer, tornando-se assim célebres os versos do poeta- calafate. 

Para ganhar a vida percorria feiras e romarias a cantar e a vender folhetos, à semelhança do que sucedeu com o seu congénere algarvio António Aleixo.

Os versos de Calafate foram recolhidos em livro, em 1901 – Versos do Cantador de Setúbal - com prefácio de Guerra Junqueiro.

Extremamente original e profundamente satírica, a sua poesia constitui, além do mais um precioso repositório da vida setubalense oitocentista, uma vez que numerosas das suas décimas se satirizam ou simplesmente narram episódios do quotidiano, desde as lutas liberais até aos progressos urbanos da cidade.

A popularidade da sua poesia contribuiu largamente para fazer de Setúbal no século passado e nas primeiras décadas do século XX um significativo centro de criação fadista.



Fonte: “Histórias do Fado” de Maria Guinot, Ruben de Carvalho e José Manuel Osório.



******************



Já fui operário artista


Mote

Já fui operário artista
Agora, já pouco valho;
Comprem-me algum papelinho,
Em paga do meu trabalho.


Glosa

Já gozei a mocidade
Esse bem tão precioso,
Fui homem laborioso
E trabalhei de vontade.
Já servi na sociedade,
Já fui homem moralista,
O meu vulto já fez vista
No seio das classes pobres,
Já fui nobre ao pé dos nobres,
Já fui operário artista.

Já tive as mãos calejadas
Do muito que trabalhei,
Meus braços atormentei
Com ferramentas pesadas.
Tive horas amarguradas,
Joguei, rasguei o baralho,
Hoje apanho algum retalho
Que a ambição deixa cair,
P'ra pouco posso servir,
Agora já pouco valho.

Até ando ameaçado
De fome ainda passar,
Por a um homem estimar,
A quem estou obrigado.
Sou pobre velho e cansado,
Estou no fim do meu caminho;
Porque sou do Zé povinho,
Não devo ser esquecido,
Seja qual for o partido,
Comprem-me algum papelinho.

Nunca fiz ruins papéis
Nem andei pondo cartazes
Nem atirei aos rapazes
Com moedas de dez réis.
Falem, pois, os infiéis,
Chamem-me velho, espantalho;
Como, agora já não valho
De tabaco uma pitada,
Levo alguma bofetada
Em paga do meu trabalho.



Imagem: Busto dedicado à memória do poeta, situado no Parque do Bonfim, em Setúbal, de autoria do escultor Castro Lobo.


MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...