A
lavandeira, a codorniz e o tremoço
Há dois mil anos, ia Nossa
Senhora, com o Menino Jesus ao colo, montada numa burrinha. Seguiam para o
Egipto, fugindo ao Rei Herodes que tinha mandado matar todos os meninos até aos
três anos de idade, para acabar com aquele que tinha sido profetizado como o
futuro rei dos Judeus. São José ia ao lado da burra, segurando-a pela corda.
Passaram, a certa altura,
por um campo de tremoços e, como era Verão, as vagens estavam secas. Os grãos,
com o calor, estalavam nas vagens, faziam uma grande barulheira e chamavam a
atenção para os fugitivos. Então Nossa Senhora condenou o tremoço e por isso
até hoje nunca deu grão que servisse para fazer pão.
Continuaram a andar e,
mais adiante, uma codorniz espantada com a passagem da burrinha e começou a
gritar:
— Ela aí vai! Ela aí vai!
Nossa Senhora estava muito aflita porque tinha
medo que descobrissem o seu filho e o matassem. Logo condenou a codorniz a
nunca poder voar alto e foi tão justa na sua praga que até hoje a codorniz só
faz voos rasteiros.
A lavandeira, vendo a
maldade da codorniz, ia, ora atrás ora à frente, e apagava com o rabo e com o
bico as pegadas todas que São José e a burra iam deixando atrás de si.
Nossa Senhora apercebeu-se da boa acção da
lavandeira e, muito agradecida, prometeu-lhe que os homens nunca lhe fariam
mal.
Assim se tornou um animal sagrado e por isso, ainda hoje, é pecado apanhar
ou matar uma lavandeira que é a avezinha de Nossa Senhora.
in Centro de Estudos Ataíde Oliveira - Lendas e
outras histórias - Ponta Delgada, Açores.
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