Augusto
Gil (Porto,
Portugal,
1873
– Guarda, Portugal, 1929).
Diz-se
que a sua poesia foi influenciada pela obra de João de Deus e por Os Simples, de Guerra Junqueiro. (…)
Toda
a sua obra é muito permeável ao sortilégio do verso rimado e à atmosfera
sentimental, misto de complacente e serena bondade, mais de raiz religiosa e
afectiva do que política. (…)
Os
seus versos de Balada de Neve e
outros, ainda hoje soam como preces aos ouvidos de um povo que ama e sofre. (…)
O
seu primeiro livro Musa Cérula foi
publicado em 1894.
Outras
das suas obras: Luar de Janeiro, Versos,
O Canto da Cigarra, Sombra de Fumo, O Craveiro da Janela, Gente de Palmo e
Meio.
A
sua única obra póstuma, Rosas desta Manhã,
foi prefaciada por Júlio Dantas.
Palavras de Augusto Gil:
«Nenhuma
glória me cabe
a
mim por muito escrever…
Eu
apenas trabalhei
como
uma abelha que sabe
que
é fazer mel um dever,
que
é um destino, uma lei.»
in “Literatura Portuguesa”
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A
Canção das Perdidas
Quem
por amor se perdeu
Não
chore, não tenha pena.
Uma das
santas do céu
- É Maria Magdalena...
Minha
mãe foi o que eu sou.
Eu sou
o que tantas são.
Que
triste herança te dou,
Filha do meu coração!
Meu pai
foi para o degredo
Era eu
inda pequena.
Se não
morresse tão cedo,
Morria agora - de pena...
E há no
mundo quem afronte
Uma
mulher quando cai!
Nasce
agua limpa na fonte,
Quem a suja é quem lá vai...
Aquele
que me roubou
A
virtude de donzela
Se
outra honra lhe não dou,
- É porque só tive aquela!...
Nós
temos o mesmo fado,
Oh
fonte d'agua cantante,
Quem te
quer, pára um bocado,
Quem não quer, passa adiante...
O meu amor,
por amá-lo,
Pôs-me
o peito numa chaga:
Deu-me
facadas. Deixá-lo.
Mas ao menos não me paga!
Nem
toda a agua do mar
Por
estes olhos chorada
Daria
bem a mostrar
O que eu sou de desgraçada!
Como
querem ver contente
Este pais
desgraçado,
Se dão
só livros à gente
Nas escolas do pecado...
Dormia
o meu coração
Cansado
de fingimento.
Bateste-me,
e vai então
Acordou nesse momento.
Se aquilo
que a gente sente,
Cá
dentro, tivesse voz,
Muita
gente... toda a gente
Teria pena de nós!
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