Aurélio
da Paz dos Reis (Porto, Portugal, 1862 – 1931).
A 12 de Novembro de 1896,
decorria no Theatro do Príncipe Real, no Porto, a apresentação ao público do
Kinetographo Portuguez por Aurélio da Paz dos Reis e seu cunhado, Francisco de
Magalhães Bastos Júnior. Na mesma sessão, uma Companhia de Zarzuela cantou Los
Africanistas. Paz dos Reis era florista, fotógrafo amador e proprietário da
Flora Portuense. Bastos Júnior era fotógrafo profissional, e co-proprietário da
Photographia Central.
Entre os quadros exibidos -
cinco dos quais estrangeiros - constam Saída do Pessoal Operário da Fábrica
Confiança (Rua de Santa Catarina, Porto), A Rua do Ouro (Lisboa), Marinha no
Tejo, Saída de Dois Vapores. Além de Jogo do Pau (Santo Tirso), Chegada d’Um
Comboio Americano a Cadouços (Foz do Douro), O Zé Pereira na Romaria de Sto.
Tirso e A Feira de S. Bento.
Desde 8 de Setembro, Paz dos
Reis e Bastos Júnior tinham (re)colhido outras «vistas movimentadas», com a
expectativa de as mostrarem no Brasil: Manobras de Bombeiros, Cortejo
Eclesiástico Saindo da Sé do Porto no Aniversário da Sagração do Eminentíssimo
Cardeal D. Américo, Feira de Gado na Corujeira, Cinira Polonio Dizendo Uma
Cançoneta ou Uma Salva de Artilharia na Serra do Pilar.
Paz dos Reis havia adquirido
«aparelhos e imagens» em Paris. Pelo natural entusiasmo de experimentar a
máquina de filmar, talvez ali tivesse operado Cenas da Vida Parisiense,
destacado em A Voz Pública. Ou seria uma referência ao «material estrangeiro»
depois citado no Jornal de Notícias?
Entretanto, em exibição no Theatro de São
Geraldo em Braga, o Kinetographo incluía Azenhas no Rio Ave, e no dia 28, no
Theatro D. Affonso no Porto, aparecia No Jardim.(…)
Ao todo, Paz dos Reis e Bastos
Júnior terão rodado várias dezenas de pequenos filmes, estando descriminados
cerca de trinta e cinco.
Cotejando os respectivos títulos com o visionamento
dos resgatados, deduz-se que o envolvimento de Paz dos Reis - quanto às
virtualidades do cinema - ultrapassou, de longe, a mera curiosidade do amador
perante «a última maravilha do Século XIX», como se anunciava. É patente um
estímulo de composição documental, e um testemunho embrionário em actualidade e
reportagem, de cunho folclórico e etnográfico.(…)
Durante anos, a existência e
caracterização do aparelho Kinetographo foi objecto de controvérsia,
subsistindo ainda interrogações sobre os motivos que levaram Paz dos Reis a
abandonar, bruscamente, o interesse - de início, tão intenso - pelo «assombroso
Animatographo», que conheceu graças a Edwin Rousby.
Paz dos Reis encararia a
invenção dos Lumière como um negócio, pleno de virtualidades.
Tendo impressionado fitas em Lisboa, no Norte do País e no Porto, onde depois as exibiu, ou em Braga, tal constituiria para o nosso pioneiro uma ocorrência aleatória - por causa do atraso na viagem ao Brasil, onde Bastos Júnior já não o acompanhou. Aliás, nessa transição entre Dezembro de 1896 e Janeiro de 1897, todas as expectativas se cifraram num fracasso, tanto mais que a «novidade» já era conhecida além-Atlântico.
Houve, mesmo, problemas na
apresentação. Relatava o jornal carioca O Paiz que «a trepidação incomoda o
espectador», e a colónia portuguesa no Rio de Janeiro não correspondeu às
«projecções luminosas em tamanho natural». Durante anos, presumiu-se que a
desastrosa experiência levou Paz dos Reis a desistir. Outros defenderam que
terá continuado a fazer filmes, embora sem os mostrar ao público. (…)
Fonte: Instituto Camões (excertos)
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