Germana Tânger (Lisboa, Portugal, 1920)
Termino esta série de evocações do ensino no Conservatório Nacional com Germana Tanger. Mas seja-me permitido uma vez mais referir a minha passagem directa (e não só familiar) no Conservatório, depois Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, onde fui aluno ouvinte nos anos 50 e professor de História do Teatro desde o início dos anos 80 até meados da primeira década dos anos 2000 – algo como cerca de um quarto de século!
E nas lembranças de professores, recordo então Maria Germana Tanger, cuja cadeira de Arte de Dizer não frequentei, mas acompanhei a sua acção didáctica e artística, designadamente através da realização de espectáculos, audições e provas de alunos que desde logo marcaram a sua entrada na Escola.
E não só: Maria Germana era já na altura um grande nome no profissionalismo teatral português, não como actriz mas como declamadora e divulgadora da poesia, em espectáculos e performances em que tantas e tantas vezes se apresentava sozinha, no palco, a declamar poesia.
No Teatro da Trindade, por exemplo, uma placa assinala os 40 anos da apresentação da Ode Marítima, inesquecível “espectáculo” de uma só pessoa, ou melhor, de duas pessoas, Germana que declamou, e Fernando Pessoa, que escreveu…
A sua passagem pela Faculdade de Letras de Lisboa, nos anos 40, será aqui evocada mais pela cultura literária e pela iniciação profissional do que pelos estudos propriamente ditos. Mas serviu para lhe dar uma bagagem didáctica, que aprofundou em Paris com George Le Roy. E na sequência, foi titular de estudos camonianos na Sorbonne.
Germana Tanger marcou ainda os primeiros programas culturais da RTP e também da EN/RDP. E desenvolveu uma carreira internacional de declamadora, junto de entidades ligadas ao ensino da língua e da cultura portuguesa ou das comunidades portuguesas.
E nesse aspecto, muito lhe ficaram devendo os grandes nomes da literatura, a começar por Almada, Régio, Torga, Sophia, e, em geral, os poetas contemporâneos – mas também, os clássicos, que declamou, com um talento inesquecível, pelo mundo cultural capaz de entender e apreciar a poesia portuguesa.
Mas voltamos à Ode Marítima. Uma lápide, no Teatro da Trindade, recorda o espectáculo, 40 anos depois. Mas para quem assistiu, é inesquecível!
Fonte: Centro Nacional de Cultura – texto de Duarte Ivo Cruz
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