segunda-feira, 31 de outubro de 2016

ACTRIZ VIRGÍNIA





Virgínia Dias da Silva (Torres Novas, Portugal, 1850 – Lisboa, 1922).
Quem há que não lhe admire o talento, a distinção, a simpatia do seu sorriso, a suavidade do seu olhar, o som argentino da sua voz, enfim, todos os seus encantos de mulher, que, não sendo formosa como uma virgem de Ticiano, encanta como o suave perfume da violeta, a que se compara na singeleza e na modéstia com que se esconde.

Quem como ela é capaz de nos fazer rir, com o seu riso alegre como um bando de passarinhos, ou enternecer-nos, como quando os seus lábios trémulos murmuravam a canção do Salgueiro? No seu olhar límpido e translúcido, espelha-se a sua alma feita de luz.

A voz quente e apaixonada moldada para acentuar as mais ternas frases de amor, acaricia-nos o ouvido como um cântico, despertando em nós os suaves eflúvios que inspira a melodiosa música de Bellini.

Se não tem, como Emília das Neves, a compleição artística das grandes trágicas, é uma actriz moderna que no palco brilha com todo o fulgor do seu talento e sabe reproduzir com notável mestria os tipos idealizados pelos grandes escritores, como Shakespeare, Dumas, Sardou, Ohnet, etc.

É notável a maneira artística como Virgínia sabe variar as inflexões da sua voz harmoniosa, clara, de vibrações cristalinas; como sabe moldar a sua fisionomia às diferentes cambiantes do personagem. 

Como sabe ser alegre e triste, humilde e altiva, fria e apaixonada;como reproduz o amor e o ódio, o despeito e o ciúme, a vingança de leoa, o arrulhar da pomba, a resignação da mártir, a candura da inocência, a majestade da rainha, a timidez da donzela, a despreocupação da mocidade ou o ar grave da matrona.

O vastíssimo reportório desta actriz, fala mais alto do que a nossa humilde pena, nada habituada a estes trabalhos.

Além de muitas outras peças, tem a notável actriz Virgínia, sido vitoriada na sua carreira dramática, nas seguintes: Fedora, Princesa de Bagdad, Ernani, Solteirões, Grande Industrial, Dionísia, Othelo, Castros, Leonor Teles, Marquês de Willemer, etc.
A Fedora notabilíssimo trabalho só por si faria a reputação desta artista.

Virgínia tem de há muito o seu lugar conquistado na cena portuguesa ao lado dos nossos primeiros artistas. Não nos abalançamos a fazer a sua biografia que quanto a nós se resume em três palavras: Talento, Glória e Modéstia.

Muito poucas são as que no nosso teatro podem ombrear com ela em talento e triunfos, nenhuma é mais modesta.

C. Alves


in “Theatros – Jornal de Crítica” – Lisboa, 1 de Janeiro de 1896.


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