Virgínia Dias da Silva (Torres Novas, Portugal, 1850 – Lisboa, 1922).
Quem há que não lhe admire o talento, a distinção, a simpatia do seu sorriso, a suavidade do seu olhar, o som argentino da sua voz, enfim, todos os seus encantos de mulher, que, não sendo formosa como uma virgem de Ticiano, encanta como o suave perfume da violeta, a que se compara na singeleza e na modéstia com que se esconde.
Quem como ela é capaz de nos fazer rir, com o seu riso alegre como um bando de passarinhos, ou enternecer-nos, como quando os seus lábios trémulos murmuravam a canção do Salgueiro? No seu olhar límpido e translúcido, espelha-se a sua alma feita de luz.
A voz quente e apaixonada moldada para acentuar as mais ternas frases de amor, acaricia-nos o ouvido como um cântico, despertando em nós os suaves eflúvios que inspira a melodiosa música de Bellini.
Se não tem, como Emília das Neves, a compleição artística das grandes trágicas, é uma actriz moderna que no palco brilha com todo o fulgor do seu talento e sabe reproduzir com notável mestria os tipos idealizados pelos grandes escritores, como Shakespeare, Dumas, Sardou, Ohnet, etc.
É notável a maneira artística como Virgínia sabe variar as inflexões da sua voz harmoniosa, clara, de vibrações cristalinas; como sabe moldar a sua fisionomia às diferentes cambiantes do personagem.
Como sabe ser alegre e triste, humilde e altiva, fria e apaixonada;como reproduz o amor e o ódio, o despeito e o ciúme, a vingança de leoa, o arrulhar da pomba, a resignação da mártir, a candura da inocência, a majestade da rainha, a timidez da donzela, a despreocupação da mocidade ou o ar grave da matrona.
O vastíssimo reportório desta actriz, fala mais alto do que a nossa humilde pena, nada habituada a estes trabalhos.
Além de muitas outras peças, tem a notável actriz Virgínia, sido vitoriada na sua carreira dramática, nas seguintes: Fedora, Princesa de Bagdad, Ernani, Solteirões, Grande Industrial, Dionísia, Othelo, Castros, Leonor Teles, Marquês de Willemer, etc.
A Fedora notabilíssimo trabalho só por si faria a reputação desta artista.
Virgínia tem de há muito o seu lugar conquistado na cena portuguesa ao lado dos nossos primeiros artistas. Não nos abalançamos a fazer a sua biografia que quanto a nós se resume em três palavras: Talento, Glória e Modéstia.
Muito poucas são as que no nosso teatro podem ombrear com ela em talento e triunfos, nenhuma é mais modesta.
C. Alves
in “Theatros – Jornal de Crítica” – Lisboa, 1 de Janeiro de 1896.
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