quarta-feira, 26 de outubro de 2016

FIZESTE BEM EM PARTIR, ARTHUR RIMBAUD !





FIZESTE BEM EM PARTIR, ARTHUR RIMBAUD!


Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Teus dezoito anos refractários à amizade, à malevolência, à bobeira dos poetas de Paris, assim como ao zunzum de abelha estéril de tua família ardenesa um pouco doída, fizeste bem espalhá-los aos quatro ventos, em jogá-los sob a lâmina de sua guilhotina precoce. Tiveste razão em abandonar o boulevar dos preguiçosos, os botequins, os mija-liras, pelo inferno das feras, pelo comércio dos espertos e o bom-dia dos simples.

Este impulso absurdo do corpo e da alma, esta bala de canhão que explode seu alvo, sim, é isso mesmo a vida de um homem! Não se pode, indefinidamente, saindo da infância, estrangular seu próximo. Se os vulcões mudam pouco de lugar, sua lava percorre o grande vazio do mundo levando virtudes que cantam em suas feridas.

Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Ainda há quem creia, sem provas, que contigo a felicidade é possível.



René Char, poeta (França, 1907 - 1988), in "Fureur et Mystère"


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