Ruy Cinatti (Londres, Inglaterra, 1915 - Lisboa, Portugal, 1986).
O poeta e
silvicultor Ruy Cinatti chegou, pela primeira vez, a Timor no mês de Julho de
1946. Tinha acabado de ser nomeado secretário do governador Óscar Ruas, quatro
anos após a violenta invasão japonesa.
Os tempos eram de reconstrução e nos
primeiros tempos ficou confinado a serviços de secretaria. Até que o
governador, nos últimos meses de 1947 o autoriza a percorrer livremente Timor,
orientado por autóctones, a fim de elaborar um levantamento fito-geográfico que
integraria a sua tese de licenciatura.
De 1948 a 1951,
Cinatti encontra-se em Lisboa. A sua tese é aprovada com 19 valores e ele
regressa a Timor, esta vez como chefe dos Serviços de Agricultura. Entretanto,
aprofunda-se nele o afecto pelos timorenses. Cada vez mais se convence que um
desenvolvimento agrícola sustentável de Timor será possível só numa articulação
íntima com a cultura local e o respeito pela conservação das florestas.
Em 1956, de
regresso a Lisboa, Cinatti publica um manifesto "Em favor do
Timorense" e dois anos mais tarde entrega às autoridades um "Plano de
Fomento Agrário para Timor". Entretanto fixa-se em Oxford, onde prepara um
tese de doutoramento.
Em 1961 regressa a Timor para recolher elemento para a
tese e anota, chocado, a delapidação em curso do património cultural do
território. Datam dessa visita 6.000 metros de filme. A última viagem decorreu
em 1966.
Em Janeiro de
1975 dirigiu uma longa carta ao Diário de Notícias, prevenindo o país do perigo
que Timor corria, mas a carta nunca foi publicada e a invasão indonésia foi
para ele um rude golpe.
Fonte: Instituto Camões – O Timor de Ruy Cinatti - autoria
de Peter Stilwell, actual Reitor da Universidade de S.José, Macau.
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Memória Amada
(Para Alain Fournier)
Vinham
de longe em bandos. Acorriam
Jubilosos.
Fantasias
De
parques pluviosos
E,
descendo,
Os
patos bravos lançados
Entre
juncos, salgueiros e veados.
Tarde,
Muito
tarde, uns olhos tais
Haviam
de aparecer, sobressaltados
Entre
enigmas e um floco de cabelos
Osculado
pelo vento. Alegorias...
Do
agora ou nunca e do momento
Definido.
Trégua impensada,
Insuspeita,
no perfume alado
Da
página dobrada e abandonada
Dum
livro interrompido. Sinto a dor fina,
Finamente
atravessada e suave,
- Quase saudade.
in "O Livro do Nómada Meu
Amigo"
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