segunda-feira, 10 de outubro de 2016

ANTONIO FOGAÇA - Os Rouxinóis




António Fogaça (Barcelos, Portugal, 1863 – Coimbra, 1888). 

Amigo e admirador de António Nobre, na sua poesia reflecte-se uma estética simbolista com pendores para para uma visão alucinatória da realidade, através de imagens audaciosas em que se mistura o belo e o perverso

A sua obra acusa, no entanto, em certos aspectos, alguma imaturidade, dada a precocidade da sua morte, ocorrida quando frequentava o 3º ano de Direito em Coimbra. 

Bulhão Pato diria então: «Brioso e gentil, a mãe adorava-o; condiscípulos aplaudiam-no; tinha pouco mais de 20 anos; era um poeta».



in “Dicionário de Cultura”


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Em vida, apenas viu publicado o seu livro Versos da Mocidade (1887).

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                       Os Rouxinóis


No meu jardim, num cedro em que a frescura
e a flor da novidade vêm brotando,
pousa, por vezes, um ditoso bando
de alegres rouxinóis, entre a verdura. . .

Quando ali vou, tristíssimo, à procura
de sossego e de luz, de quando em quando,
sinto-os vir e pousar, ouço-os cantando
no doce idílio de uma paz obscura.

E, desditoso, eu lembro com saudade,
último brilho do meu peito ardente,
que assim também, num íntimo vigor,

sobre o flóreo jardim da mocidade,
cantaram na minh'alma alegremente,
como no cedro, os rouxinóis do amor!...





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