DRAMA
NO DESERTO
Marchavam
penosamente sob o Sol escaldante do deserto.
O
deserto era um imenso areal – e só lhe faltava o mar para ser uma bela praia.
…
Mas não havia mar, era só o areal, grande como um oceano, mas sem água.
…
Era o deserto.
…
O deserto só não estava deserto porque eles iam ali, penosamente, sob o Sol
escaldante.
…
Tinham sede, muita sede.
…
Havia já dois dias que a água secara nos seus cantis e desesperadamente
procuravam umas gotas, ao menos umas gotas para molhar os lábios.
…
Nada. Nem pinga de água.
…
E, embora escaldados, continuavam a avançar, penosamente, sob o Sol escaldante
do deserto.
«Avista-se
algum oásis?» - perguntou um.
«Não
se avista coisíssima nenhuma!» - respondeu outro. «Isto está sempre assim ao
domingo.»
«Nem
sequer se vê uma miragem?» - tornou o primeiro.
«Não
vejo nenhuma miragem» - disse o outro, mirando o horizonte.
«Só
vejo o horizonte, e é longe que se farta».
À
medida que o tempo passava, iam ficando em brasa.
Continuavam
a sua penosa marcha pelo deserto, mas o mais sábio de todos eles sentenciou:
«É uma
questão de vida ou de morte: ou matamos a sede, ou a sede nos mata a nós».
…E
acrescentou que, se matassem a sede, era em legítima defesa.
…
Quando já estavam quase a atingir o desespero, o que marchava à frente estacou
de súbito, assobiou e disse: «Aqui! Olhem aqui».
…
Correram todos a olhar ali. E viram, maravilhados, um grande círculo de areia
molhada na areia seca do deserto.
«Água!
Água! Água!» - gritaram, loucos de alegria, dançando de roda.
…
E começaram a cavar, com as próprias mãos, na areia molhada, para chegarem
depressa ao encontro da água.
…
Cavaram muito, e cada vez tinham mais sede, porque cavar faz sede.
…
Foi então que um grande jacto líquido brotou do solo, apontando ao céu, e
depois tombando sobre eles num duche colossal!
…
Olharam-se e gritaram em coro:
«Rais partam isto!
Petróleo outra vez!»
in “Pão com Manteiga” – 1980
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