domingo, 2 de outubro de 2016

DRAMA NO DESERTO





DRAMA NO DESERTO


Marchavam penosamente sob o Sol escaldante do deserto.

O deserto era um imenso areal – e só lhe faltava o mar para ser uma bela praia.

… Mas não havia mar, era só o areal, grande como um oceano, mas sem água.

… Era o deserto.

… O deserto só não estava deserto porque eles iam ali, penosamente, sob o Sol escaldante.

… Tinham sede, muita sede.

… Havia já dois dias que a água secara nos seus cantis e desesperadamente procuravam umas gotas, ao menos umas gotas para molhar os lábios.

… Nada. Nem pinga de água.

… E, embora escaldados, continuavam a avançar, penosamente, sob o Sol escaldante do deserto.

«Avista-se algum oásis?» - perguntou um.

«Não se avista coisíssima nenhuma!» - respondeu outro. «Isto está sempre assim ao domingo.»

«Nem sequer se vê uma miragem?» - tornou o primeiro.

«Não vejo nenhuma miragem» - disse o outro, mirando o horizonte.

«Só vejo o horizonte, e é longe que se farta».

À medida que o tempo passava, iam ficando em brasa.

Continuavam a sua penosa marcha pelo deserto, mas o mais sábio de todos eles sentenciou:

«É uma questão de vida ou de morte: ou matamos a sede, ou a sede nos mata a nós».

…E acrescentou que, se matassem a sede, era em legítima defesa.

… Quando já estavam quase a atingir o desespero, o que marchava à frente estacou de súbito, assobiou e disse: «Aqui! Olhem aqui».

… Correram todos a olhar ali. E viram, maravilhados, um grande círculo de areia molhada na areia seca do deserto.

«Água! Água! Água!» - gritaram, loucos de alegria, dançando de roda.

… E começaram a cavar, com as próprias mãos, na areia molhada, para chegarem depressa ao encontro da água.

… Cavaram muito, e cada vez tinham mais sede, porque cavar faz sede.

… Foi então que um grande jacto líquido brotou do solo, apontando ao céu, e depois tombando sobre eles num duche colossal!

… Olharam-se e gritaram em coro:

«Rais partam isto! Petróleo outra vez!»





in “Pão com Manteiga” – 1980





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