quarta-feira, 15 de novembro de 2017

DAVID MOURÃO-FERREIRA - Alvorada




DAVID MOURÃO-FERREIRA
(Lisboa,  Portugal, 1927 - 1996)

Escritor e poeta

ALVORADA

Era de novo um corpo! Alvorada sombria,
alvorada nefasta envolta nuns cabelos...
Eram negros e vivos. Quem sofria,
dentro de mim, e assim tremia
só de vê-los?

Eram negros; e vivos como chamas.
Brilhavam, azulados, sob a chuva.
Brilhavam, azulados, como escamas
de sereia sombria, sob a chuva...

Veio cedo de mais a trovoada:
o vento me lembrou
de quem eu sou.

- Alvorada infecunda!, abandonada
por quem a entreviu de uma sacada
mas que, logo a seguir, se retirou.


Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...