DAVID MOURÃO-FERREIRA
(Lisboa,
Portugal, 1927 - 1996)
Escritor
e poeta
ALVORADA
Era
de novo um corpo! Alvorada sombria,
alvorada
nefasta envolta nuns cabelos...
Eram
negros e vivos. Quem sofria,
dentro
de mim, e assim tremia
só de vê-los?
Eram
negros; e vivos como chamas.
Brilhavam,
azulados, sob a chuva.
Brilhavam,
azulados, como escamas
de sereia sombria, sob a chuva...
Veio
cedo de mais a trovoada:
o
vento me lembrou
de
quem eu sou.
-
Alvorada infecunda!, abandonada
por
quem a entreviu de uma sacada
mas que, logo a seguir, se retirou.
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